Crédito foto: Reprodução / Facebook oficial do atleta
O faixa preta em jiu-jitsu nascido em Ribeirão Preto, Edgar Castaldelli Filho, mais conhecido como Edgard Magrão, luta desde criança. É do MMA e professor nos dias atuais. No seu cartel, 24 lutas profissionais, com 20 vitórias, sendo 12 por nocaute e apenas quatro derrotas.
O Esportudo falou com exclusividade com o ex-participante do The Ultimate Fighter Brasil 3, e nos contou sobre seu início de carreira, as dificuldades de quem quer ser lutador no Brasil, sua experiência no TUF, dentre outros assuntos.
Início da carreira
Segundo Magrão, o seu primeiro contato com a luta foi aos nove anos no taekwondo, onde aos 16 conseguiu ser faixa preta. Nessa mesma idade começou a se envolver com jiu-jitsu e aos 18 anos fez sua primeira luta de artes marciais mistas. Também começou a desenvolver sua aptidão no boxe na cidade de Ribeirão Preto, SP.
“O meu árbitro nessa primeira luta era técnico de boxe na Cava do Bosque [Ribeirão Preto] o finado Ezequiel, e foi lá que aprendi. Comecei a treinar com ele, saber a importância deste esporte pro 'Vale Tudo' que era o nome do MMA na época. Fui crescendo dentro do esporte e passei a treinar em Curitiba na equipe de Futebox, ex-equipe do Wanderlei Silva, fui sparing dele e lá me formei professor de muay-thai. Depois dali, passei pela equipe do Team Nogueira que é a do Rodrigo Minotauro. Não posso me esquecer também do meu treinador de boxe há 15 anos, Bruno Galati, e foi com ele que consegui meus maiores títulos na modalidade, como campeão paulista amador e profissional”, disse o ex-TUF Brasil.
Barreiras enfrentadas por lutadores
Crédito foto: Reprodução / Facebook oficial do atleta
O esporte no Brasil é visto como um hobby, não tem a estrutura e o apoio necessário como determinados países que o usam como parte da educação do cidadão. E é isso que Magrão pensa, e coloca que para lutadores é ainda mais complicado.
“Esporte aqui no Brasil é dificultoso em qualquer aspecto, e luta acho que é dificultoso e meio. Uma porque é um esporte individual, você precisa de parceiros nos treinos, mas na hora da luta é você que resolve, não há outro atleta que posso cobrir um erro seu, como no futebol, vôlei. Outra que no Brasil o atleta é muito marginalizado, se você não trabalha numa mesa de escritório ou cortando cana você não está trabalhando. Então, tem muito pouco apoio, principalmente na fase amadora. A partir do momento que virei profissional, a dificuldade de achar eventos que pagassem uma bolsa justa é complicado. Certo que tenho algumas lutas e consigo me estabilizar um pouco mais, mas tanto eu quanto qualquer outro atleta profissional sabe do que eu tô falando, a dificuldade em conseguir um patrocínio”, concluiu o atleta.
Participação no The Ultimate Fighter Brasil 3
Crédito foto: Reprodução / Facebook oficial do atleta
Magrão participou da terceira edição do reality show do UFC, o The Ultimate Fighter Brasil. A seleção foi pesada, muito competitiva e ele nos contou um pouco sua experiência no programa.
“De início eu iria participar na minha categoria que é meio pesado. Participei da seletiva que envolve desde entrevistas, questionários, até mesmo a parte prática com luta, demonstração de técnicas na manopla, luta em pé, no grappling (corpo a corpo), no chão, entrevista de conhecimentos gerais, idiomas, nisso você pode colocar umas vinte que a gente fez. Fui um dos 68 selecionados dentre 1700 inscritos. Tiraram minha categoria e me perguntaram se eu aceitava participar na categoria peso pesado, eu aceitei, dei entrada na casa e acabei vencendo por nocaute na estreia. Não tive uma participação muito expressiva, acabei perdendo nas quartas de finais por nocaute para o 'Cara de Sapato', lutador que seria o campeão da categoria”, relatou Edgard Magrão.
O ex-TUF 3 gostou de ter participado da competição mesmo não tendo conseguido vencer para poder ir ao UFC e valorizou o ganho que teve com sua participação.
“Para mim valeu muito porque me abriu muitas portas para outros eventos. A oportunidade de cair no time americano do Chael Sonnen e treinar com técnicos americanos, a escola americana é um outro nível em relação à brasileira, em termos de luta olímpica, preparação física, eles estão anos luz a nossa frente. Consegui muito respeito por ter participado e até hoje sinto os reflexos dessa minha experiência”, contou o lutador.
Crédito foto: Reprodução / Facebook oficial do atleta
Edgard fez parte do time do Chael Sonnen e contou sobre a sua personalidade e se ele realmente é marrento como vemos na Tv.
“O Sonnen é um cara inteligentíssimo, educado, e não apenas com quem era do time dele, mas com a produção do programa também, com as moças que faziam a faxina do centro de treinamento. Ele como lutador nem se fala, muito bom, já disputou cinturão. Essa parte dele de falastrão, que falou um monte de coisas nas entrevistas para o Anderson Silva, eu não concordo com o que ele fez. Mas, conversando pessoalmente com ele eu passei a entender o porquê dele fazer isso. O americano gosta disso, isso vende nos Estados Unidos. Fora do ringue é outra pessoa, com certeza o receberia de braços abertos na minha casa, um cara muito educado”, revelou o atleta.
Comportamento antes das lutas e ídolo no MMA
Ele falou também sobre o seu comportamento antes dos embates, se tem alguma superstição.
“Eu tenho um processo todo, que é de concentração, oração, mas supersticioso como alguns lutadores que dão três socos no tatame antes de entrar entre outras, isso eu não tenho não. Mas tenho meus rituais de focar naquele momento, entrar de cabeça fria e não deixar me abalar com nada que não seja a luta”, disse o campeão paulista de boxe.
O “Magrão” elogiou muito Rodrigo Minotauro, seu grande ídolo e quem ele se espelha no MMA.
“Meu ídolo é o Rodrigo Minotauro. Não existe um igual, nem como pessoa nem como lutador que sofreu tanto castigo e continuou brigando, vencendo e dando exemplo pro mundo sempre com humildade. Para mim ele é um exemplo a ser seguido, nunca vi uma pessoa com tanta fibra”, revelou.
Crescimento do muay-thai entre as mulheres
Nos últimos anos, podemos ver um grande crescimento do muay-thai nas academias do país, porém, vemos um ainda maior com as mulheres. “Magrão”, que também é professor, falou um pouco sobre esse interesse das mulheres pela luta.
“O muay-thai por envolver bastante movimentação, você bate com os braços, mas 70% é de perna, ainda acrescentar os chutes, trabalha tudo o que a mulher quer, como glúteos, abdômen por exemplo. É uma opção muito válida para sair um pouco da academia tradicional, para ser um pouco mais dinâmico. Muitas pessoas reclamam da falta de desafio, de dinamismo na musculação tradicional. A luta é diferente, cada dia é uma surpresa, depende do que o treinador vai passar, do que o adversário vai fazer, a sua performance vai mudar. Essa quebra de rotina que atrai muitas pessoas. Entre as mulheres principalmente, não estão muito preocupadas em aprender a lutar, a grande maioria está preocupada em queimar calorias e entrar em forma e acaba consequentemente aprendendo a lutar”, disse o atleta.
Calendário de competições e experiência na academia Stronger
O lutador faixa preta em jiu-jitsu falou sobre suas competições previstas para esse ano.
“Eu estou lutando cada vez menos, meu corpo tá me dando sinais há algum tempo e agora vou começar a segui-lo (risos). Esse ano eu tenho uma luta marcada para abril. Vai ser na Cervejaria Invicta em Ribeirão Preto, um evento grande de boxe e eu vou fazer a luta principal e dali para frente ainda não tenho nada marcado”, completou o lutador.
Crédito foto: Reprodução / Facebook oficial do atleta
Atualmente, o ex-TUF trabalha na academia Stronger na cidade de Sertãozinho, São Paulo, e falou para a gente sobre a ideia da academia e como está sendo sua experiência no local.
“O dono da academia, Carlos Elisário, nós somos amigos e companheiros de equipe há mais de 15 anos. Quando ele decidiu abrir a academia e me chamou para trabalhar com ele, eu aceitei de pronto porque é uma pessoa muito responsável, amigo e leal. Gosto muito da cidade de Sertãozinho, dou aula na cidade há mais de 10 anos e agora na Stronger onde não pretendo sair tão cedo. A academia é quase que exclusivamente voltada para o esporte radical, e aqui trabalhamos com luta e condicionamento físico extremo (Strong fit), então é diferente de algumas academias por aí, em que você tem aula de artes marciais meio fitness. Aqui é o oposto, a galera ri, sua, chora, tudo ao mesmo tempo e eu gosto desse clima”, contou Edgard.
Conselhos para quem está começando a lutar
O campeão paulista encerra esse bate papo com o Esportudo dando uma ajuda e uma orientação para as pessoas que querem começar a lutar ou que estão começando.
“Conselho que eu tenho para dar é: expanda seus horizontes, não fique preso apenas ao núcleo em que você está, treinar com outras equipes. Não significa ficar mudando de equipe, mas adquira um trânsito com outros lutadores, de outros estilos, busque treino em outras cidades e se tiver condições financeiras em outros países também. Ressalto que não estou incentivando ninguém a trocar de equipe, você tem e deve ser fiel sempre ao seu mestre e à sua equipe o resto da vida, mas treinar com seus amigos que seja de outra equipe, isso não é traição nenhuma, pelo contrário, isso só tem a acrescentar pros dois lados”, concluiu o lutador.
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