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Torneio Internacional: Meninas levam o hepta e dão goleada no machismo

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Crédito foto: site oficial da CBF

Ser mulher e jogar futebol no Brasil não é tarefa nada fácil e posso falar sobre isso com conhecimento de causa. Desde pequena, sofri preconceito por ter me apaixonado pela bola nos pés, a começar pelos meus próprios pais. Minha mãe dizia a famosa frase “futebol é coisa de menino”, e sequer tinha a curiosidade de me ver jogando. Meu pai não demonstrava tanta revolta como a minha mãe e até levava eu e meu irmão para jogar bola no Tijuca Tênis Clube – onde passamos boa parte de nossa infância –, mas tenho certeza de que ele teria preferido que eu gostasse de um esporte mais “feminino”. Na escola, eu tinha que jogar com os meninos. Só eu e mais duas meninas no colégio inteiro “ousávamos” praticar um esporte “tão violento e masculino”. Sofríamos bullying, e apelidos e agressões verbais nunca faltaram. Nunca foi fácil, mas quando você ama uma coisa a ponto de não conseguir imaginar sua vida sem ela, todo o resto se torna secundário. Joguei futebol durante muitos anos de minha vida e, hoje, me contento em falar e a escrever sobre ele.

Só que, nos dias de hoje, o Brasil não é apenas o país do futebol. Assuntos como machismo, racismo, ideologia de gênero, orientação sexual e tantos outros estão sempre em pauta e presentes desde um papo de bar à uma mesa redonda. Então dá aquela impressão de que estamos evoluindo, que a sociedade está ficando mais tolerante. Foi bonito de ver um país inteiro torcendo pelas “meninas do Brasil”, nas Olimpíadas, e gritando “Marta é melhor que Neymar”. Mesmo sabendo que aquele momento não retratava a realidade, não deixou de ser emocionante e de nos dar um fio de esperança. Mas aí vem uma manchete de jornal machista e apelativa, fazendo um verdadeiro gol contra, e nos obrigando a despertar de um sonho bom. Pronto, demos quatrocentos passos para trás, não foram só quatro não.

Ontem (18/12), as “meninas do Brasil” foram campeãs pela sétima vez do Torneio Internacional de Futebol Feminino. Só que quem sabia disso? E olha que foi em Manaus, não em Yokohama. Não foi no continente asiático, onde rolou a final do Mundial de Clubes e o mundo parou para torcer pelo Cristiano Ronaldo, no mesmo domingo em que as meninas venceram a Itália por 5 x 3 e levaram o troféu para casa. Foi aqui do lado mesmo. Só que quem assistiu? Quem transmitiu os jogos? Quem está comentando sobre eles? Depois de quatro goleadas consecutivas e 100% de aproveitamento, por que não estamos ouvindo todas as TVs, rádios, jornais e programas esportivos falando sobre isso quase 24 horas por dia? Não seria assim se fosse com o Neymar e sua turma? CR7, Messiwhoever? Ou estou enganada? Por que precisou de uma goleada de 4 a 0, que resultou em uma manchete infeliz, para que esse assunto se tornasse viral nas redes sociais? E por que, mesmo com tudo isso, pouco ainda se fala sobre a competição e esse absurdo? 

Não preciso responder essas perguntas, pois as respostas não são nenhum mistério. Infelizmente, não se muda uma cultura de uma hora para outra. O trabalho é demorado e é de formiguinha. Por falar nisso, foi o último jogo e a despedida da Formiga, depois de 22 anos defendendo a amarelinha. A camisa 8 mereceu todas as homenagens recebidas e eu também gostaria de lhe agradecer e desejar toda a sorte do mundo em sua nova caminhada. Gostaria também de agradecer e parabenizar toda a equipe, especialmente a técnica Emily Lima, que estreou fazendo um trabalho impecável. E, apesar do excelente saldo na competição, a Marta fez e sempre fará falta na Seleção. Ainda está para nascer alguém que vista a camisa 10 tão bem quanto ela.

Mais uma vez, essas meninas foram campeãs. Mas não levaram apenas o troféu do Torneio Internacional nos braços, a medalha de ouro no pescoço e o hepta para casa. Elas também venceram a partida mais difícil de todas e derrotaram seu maior adversário: o preconceito. E cada “formiguinha” que abominou a atitude daquele jornal de Manaus e expressou a opinião publicamente, levantou a taça com elas. Continuem fazendo isso. Não desistam. Porque, infelizmente, essa partida é eterna e temos que encará-la every single day. Mas, podem acreditar, ela vale a pena. Todo o resto é secundário, lembram? 

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Categorias: Futebol, Brasil, Futebol Feminino, Hepta, Torneio Internacional de Futebol Feminino, campeãs, machismo, goleada

Renatinha Oliveira

Escrito por Renatinha Oliveira

Carioca de coração da Zona Sul, flamenguista de corpo e alma, formada em Jornalismo pela PUC-Rio e em Ed. Física pela UFRJ, decidiu unir suas duas maiores paixões em um time só: o Jornalismo esportivo.

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