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O Comitê Desportivo LGBT do Brasil (CDG do Brasil) possui como intuito a inclusão: eles já sofrem tanto preconceito, por isso não discriminam ninguém, todos são bem-vindos – inclusive héteros. Toda terça-feira, das 19 às 21 horas, no Ginásio de Voleibol do Centro Esportivo Tiete, há treinos da modalidade para quem se sentir à vontade.
Erico Santos, presidente do CDG Brasil, afirma que quando fizeram o projeto, pensaram nisso: incluir as transexuais no esporte e desbancar o preconceito: “Como alternativa de lazer, a parte do esporte é muito bom para a parte mental e física”, disse Erico. Além do vôlei, o Comitê também oferece futebol e handebol.
“A primeira regra aqui, além de não ter nenhum tipo de discriminação, é não formar panelinhas, justamente para que todos possam participar, jogar e se divertir. Até porque ninguém vai sair para a Seleção Brasileira, não é? Ninguém está competindo visando o alto rendimento, aqui é lazer”, explicou o presidente. Todos possuem oportunidade de jogar, formam-se os times, se o mesmo time ganhar duas vezes seguidas, ele sai e fica fora por uma rodada; quando há várias pessoas a pontuação vai até 15.
Ele também conta que juntar as pessoas para treinar é um trabalho inicial, a segunda parte do trabalho é formar os times, para que possam ter a primeira liga LGBT de São Paulo.
“Queremos formar um time de transexuais para elas jogarem com as mulheres, e embora não vamos exigir o teste (de testosterona), por ser um torneio amador, nós vamos respeitar a identidade de gênero. Isso vai ser falado com todas as equipes femininas para que elas possam estar cientes disso e contribuir também nessa inclusão das mulheres trans”, contou Erico.
Crédito foto: Divulgação
O projeto possui uma média de 70 pessoas cadastradas, e uma média de 20 a 30 nos dias de treino. Para se cadastrar, basta falar com Erico, jogar e se sentir à vontade e se quiser voltar, faz cadastro. Eles possuem lista de presença – como usam o ginásio de forma gratuita, mostram que tem pessoas frequentando.
Neste projeto eles possuem cinco transexuais – todas do Centro de Acolhida para Travestis e Transexuais (CA Florescer) e quem se destaca é Sabrina.
O CA Florescer surgiu do propósito de dar direito, no sentido de acolhimento, para as mulheres travestis e transexuais: anterior ao CA, as meninas iam para espaços masculinos ou mistos, não tendo a identidade de fato exposta, elas acabavam tendo comportamentos diversos, violentadas, agredidas e até mesmo abusadas sexualmente.
Foi inaugurado em março de 2016, possui como princípios: emponderamento feminino, busca de acesso à rede e ter de fato a identidade e direitos de travestis e transexuais preservados. Ao todo, abriga 30 meninas. O mais interessante é que dentro da característica de política púbica, voltado exclusivamente para essas meninas, é o único que existe no mundo.
“Dificilmente a menina vai pedir ajuda ao acolhimento, geralmente vão para a rua direto, vinculando à prostituição ou às drogas – lá elas descontroem toda história de vida que ela traz: outras referências de relacionamento, afetividade, convívio, respeito, direitos e deveres...”, afirma o diretor do CA, Alberto Silva. É uma questão complicada: a rua acaba sendo o único caminho para as meninas que foram excluídas da própria família, muitas vezes levando a prostituição e o vínculo com as drogas.
O maior desafio hoje enfrentado pelas meninas é o preconceito, em todos os sentidos: desde inserção no mercado de trabalho até acesso a outros espaços.
Crédito foto: Isadora Travagin
Eles têm uma quadra esportiva no espaço – jogam quase todos os dias no final da tarde. Essa ideia começou porque eles pensaram em desenvolver algumas atividades: vôlei adaptado – uma tem portadora de AVC e joga, a mais nova com a mais velha. Ganharam a rede, compraram uma bola e foi se ampliando. Começou há quatro meses e eles já pretendem colocar o handebol como prática frequente, já possuem até uma bola.
Mas o handebol é complicado devido ao contato: pode ser prejudicial para o silicone industrial – cirurgia que muitas possuem, por ter sido a opção mais barata na época.
Sabrina Carla Viana, 45 anos, é atleta desde pequena – sempre gostou e praticou de tudo um pouco, mas seu forte sempre foi o vôlei. Natural de Promissão, interior paulista, quase 500km da capital – veio para a cidade cinza aos 18 anos e sempre teve uma grande paixão desde então.
Entre 1985 e 1988, ela participou de dois campeonatos regionais e um Jogos Abertos do Interior, em Piracicaba - campeonatos interescolares. Ela jogava na Liga Masculina, mas sempre de mulher: na época, não tinha essa diferença entre pessoas trans – ou era homem, mulher ou gay.
Além disso, Sabrina também sempre gostou de natação – inclusive, neste ano tentaram escrevê-la num torneio transexual, mas não tiveram retorno até hoje.
Crédito foto: Reprodução / Página oficial Facebook
“Nem todos fazem tratamento hormonal, principalmente porque a maioria das meninas vieram da rua, então não tinha um acompanhamento. Agora elas vão na endócrina, mas tem seu tempo”, Alberto afirmou e Sabrina comenta que toma hormônio sem acompanhamento desde os 12 anos – sozinha e escondida da família.
Hoje faz três anos que ela não toma hormônio, e apesar de ter sido 30 anos disso sem acompanhamento, nunca teve um problema de saúde em relação a isso. Hoje ela vai em uma endócrina, acompanha e faz tratamento. “Por causa da idade, chega uma época que o organismo já não reage tão bem”, afirma Sabrina.
Ama jogar vôlei, mas acha que devido à idade ela não vai conseguir jogar profissional. Apesar de o profissional não ser seu foco, ela quase sempre vai aos treinos do CDG Brasil e foi muito elogiada por Erico. Aliás, por ter acompanhado um dia de treino, posso dizer que ela joga muito bem!
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