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Na última segunda feira (30/1), o São Paulo Futebol Clube anunciou a venda do meia-atacante David Neres para o Ajax, da Holanda, pelo valor de 15 milhões de euros (R$ 50,7 milhões), se tornando a terceira maior transferência da história do clube. O atleta integrou o elenco profissional a partir do segundo semestre de 2016, realizando oito jogos no total.
O Tricolor Paulista enfrenta uma enorme crise econômica desde 2104, ano no qual o clube sofreu um déficit de R$ 71 milhões. Desde então, os dirigentes vêm encontrando muitas dificuldades em conseguir uma estabilidade financeira no caixa do clube. Dentro dessa grande instabilidade, houve também todo o processo de renúncia do ex-presidente Carlos Miguel Aidar, que deixou a presidência sob fortes acusações de desvios de dinheiro. Entre elas, está o inexplicável déficit de R$ 72 milhões em 2015, ano em que o clube lucrou R$ 108 milhões apenas com transferências de jogadores. Porém, não se deve considerar apenas esse fato como responsável por tamanho embaraço a cada ano no clube do Morumbi.
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Deixando de lado o fator financeiro envolvendo as negociações, vamos nos concentrar no lado esportivo e ideológico que a venda de Neres representa para o clube. Com a chegada de Rogério Ceni, o discurso nos arredores do CT da Barra Funda era de que o ano do São Paulo seria de reconstrução. Prometendo usar jogadores da categoria de base como nunca antes, a aposta do clube era, entre outros, David Neres. Mas com a proposta financeiramente irrecusável do time holandês, a diretoria sentiu que para ter, ou tentar ter, uma estabilidade financeira nos primeiros meses do ano, o correto a se fazer era aceitar a oferta. Mas exclusivamente não será esse negócio que fará os cofres do Morumbi serem mais sólidos.
Vale lembrar da transferência de Lucas Moura para o PSG, da França, em que o São Paulo aceitou uma proposta de R$ 100 milhões pelo atacante, e exatamente um ano depois, a equipe passou a viver uma intensa crise financeira, que parece interminável.
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São coisas inexplicáveis, como o clube ter a terceira maior receita de televisão do país, estando atrás apenas de Corinthians e Flamengo, estar sempre lucrando com venda de vários atletas, ter um aumento a cada ano nos planos de sócio-torcedor, estando no G4 entre os times com maior número de sócios, ter inúmeros patrocínios em sua camisa, e mesmo assim não conseguindo atingir um equilíbrio financeiro.
Com a previsão de mais um ano de enorme déficit, o clube se viu obrigado a se livrar de uma grande promessa vinda da categoria de base, que teria totais condições de render muito mais lucro ao clube. Não só com gols e uma possível transferência no futuro, mas o marketing em cima do garoto também poderia crescer, como a venda de camisas, por exemplo. Mas mais uma vez, a instituição São Paulo Futebol Clube se vê refém de gestores que demonstram muito mais preocupação e entendimento financeiro do que esportivo. Isso mostra o quanto a equipe sofre com problema de caixa, em que não consegue se manter estável, com um time sólido.
O que acontece no Morumbi é uma constante mudança, tanto no âmbito político quanto no esportivo. Nos dois últimos anos, a equipe sofreu um grande desmanche no meio da temporada, que prejudicou claramente o desempenho dentro de campo. E não será uma venda de R$ 50 milhões que mudará esse cenário. Até porque a diretoria precisa ir ao mercado para repor a ausência de Neres. E para isso, terá que embolsar uma certa quantia com a transferência e salário.
No Tricolor Paulista, há muito tempo não se pensa esportivamente. Claro que essa transferência irá ajudar o caixa do clube, mas isso exige um planejamento muito bem feito. Falta no clube também, um profissional capaz de identificar os jogadores certos para manter na equipe, que lhe renderá glórias e lucros. Não é de hoje que os diretores deixam passar uma grande promessa. Vale lembrar como Casemiro, hoje titular no Real Madrid, deixou o time. Não é um problema recente, mas sim que vem de anos atrás, em que os profissionais lá dentro não demonstram ter capacidade de identificar quais atletas são mais relevantes para o bom funcionamento do time dentro de campo. .
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Isso necessita um diálogo muito intenso entre diretoria, comissão técnica e categoria de base. Devem sentar-se numa sala a comissão técnica do time profissional, das categorias de base e a diretoria, para dialogarem e avaliarem quais jogadores serão relevantes para o sucesso da equipe. E nos últimos anos, essa conversa parece não existir. A diretoria há vários anos age sem consultar sua comissão técnica, deixando-a, contra a parede, caso de Juan Carlos Osorio, por exemplo. E, nesta semana, mais uma vemos a diretoria agindo em prol do caixa do clube, mas não do bom funcionamento da equipe dentro de campo.
O negócio envolvendo David Neres vai contra tudo o que vinha sendo dito nos arredores do CT da Barra Funda. O discurso de renovação, de utilizar jogadores vindos da base, é deixado de lado, para dar ênfase no valor que está envolvido, sem levar em conta a importância que o atleta teria na nova ideologia do clube.
Isso nada mais é do que a diretoria consertar os erros de um passado não muito distante. Porém, está se consertando com um outro erro. O dinheiro não é infinito, chega um momento em que ele se acaba e não será diferente com esses R$ 50 milhões. A pergunta é, qual outra jovem promessa o São Paulo irá desperdiçar para consertar mais um equívoco?
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