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Quatro cirurgias, complicações no parto que resultaram em uma paralisia cerebral. A falta de oxigênio no cérebro ditou o futuro da criança nascida em 1 de fevereiro de 1979 em Natal, Rio Grande do Norte.
Coordenação motora afetada e dificuldades na mobilidade das pernas, a cadeira de rodadas se tornaria companheira integral daquele menino chamado Clodoaldo Francisco da Silva Correa. “Eu andava carregado pela minha mãe e meus irmãos”, conta o ser humano incrível, que desde um “direct” pelo Instagram, se colocou à disposição para falar comigo e juntos driblamos a distância (SP-RJ) e as dificuldades pessoais por quais ele passou durante essas três semanas que mantivemos contato.
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Através da deficiência física, o “Tubarão das Piscinas” pôde ser tornar um... Ídolo, imagem que representa uma divindade e que se adora como se fosse a própria divindade; pessoa ou coisa intensamente admirada, que é objeto de veneração (Google Dicionários). “Ser ídolo é você ter honestidade, integridade, respeito, fazer as coisas corretas e eu sempre fiz isso, não só no esporte, mas na minha vida toda. Para o Brasil, eu me tornei ídolo em 2004, mas antes eu já era ídolo em casa”, explica Clodoaldo Silva.
Aliás, e que 2004! Os Jogos Paralímpicos de Atenas mostraram para o mundo o que aquele guerreiro já batalhava há anos. Seis ouros e uma prata significaram o auge da carreira do nadador e mudou completamente a imagem do movimento paralímpico no Brasil. Com o sucesso dos nossos atletas naquele ano, o país saltou do 14º lugar – na ocasião – no quadro de medalhas para nono em Pequim 2008 e sétimo em Londres 2012.
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Seria essa a Olímpiada mais memorável do “Tubarão”? Ele mesmo fala: “Essa é fácil de responder, com certeza foi! Eu já era o maior medalhista do Brasil em uma única edição de Jogos (2004), até hoje ninguém bateu este recorde, mas o revezamento 4 x 50 Medley, no último dia de prova, foi inesquecível. Entre mim, Francisco Avelino, Adriano Gomes e Luiz Silva, eu era o único a saber qual era o gostinho de estar no lugar mais alto do pódio. Ali não era só um revezamento, uma equipe, era uma família, e desde 2000 esses mesmos quatro caras tentavam bater a Espanha, a grande equipe a ser batida e sempre perdíamos no final e ficávamos com a prata. Eu finalizei o revezamento, estávamos em segundo lugar até eu cair na água, pela primeira vez ali eu me emocionei, chorei pra caramba, eu não falava nada com nada. Foi a maior emoção da minha vida”, conta o medalhista.
Mas, 12 anos depois, outro momento viria para disputar pau a pau com Atenas o posto de maior momento da carreira do hoje ex-nadador. A Rio 2016 trouxe muito além daquela medalha de prata para Clodoaldo: ele foi o responsável por acender a pira paralímpica e escolheu a cidade maravilhosa para, segundo ele próprio, “pendurar a cueca”.
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“Muitos podem achar ‘Ah, só ganhou uma medalha, e ainda de prata’, mas só de você estar lá, é fantástico! Só de participar no Brasil já seria inesquecível. No momento da pira o mundo estava olhando, a forma que foi... Eu peguei a tocha, caiu um temporal, fiquei de frente às escadas, de repente abriu-se rampas. Nem nos meus melhores sonhos eu imaginei que o Rio poderia me proporcionar tantas coisas boas. Eu só sei que sou muito privilegiado de ter acontecido tudo isso comigo. Eu quero deixar marcado o que aconteceu em 2016”, lembra o nadador.
O “atleta por acaso”, como ele mesmo classifica seu início na natação, encerrou a carreira com números impressionantes: em Paralimpíadas são 14 medalhas, seis de ouros. Em Jogos Pan-Americanos, mais de 19 medalhas, sendo 13 de ouros e em Campeonatos Mundiais, mais nove, todas elas vindas do lugar mais alto do pódio. Uma perda dessa para a Seleção Brasileira de Natação será lastimável, certo? Errado, e quem explica o porquê é o próprio “Tubarão”:
“Eu vejo com bons olhos a nossa seleção. Quando eu comecei, nós só tínhamos quantidade, hoje temos quantidade e qualidade. Graças a mim, ao Daniel, ao André surgiram mais atletas, a Seleção Brasileira está muito mais jovem. Atualmente é muito difícil entrar neste time porque os critérios, o ranking dos atletas é tão bom e a briga, no sentindo bom da palavra, é bonita. Eu tenho certeza que a natação só tem a crescer mais”, explica Clodoaldo.
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Um ano longe das piscinas – competindo –, o eterno nadador tem planos, no mínimo, ousados para seu futuro. Hoje palestrante, ele quer ir muito além do que dividir com os outros sua história de vida. “Meu pensamento é entrar em uma faculdade de comunicação social, ir para o lado do jornalismo e dar visibilidade para a natação e outras modalidades na frente da telinha”. Mas, vai fazer tudo isso em paralelo com a preparação para ser técnico, certo? Afinal, a maioria dos atletas que se aposentam faz o possível para permanecer perto do esporte. Nada disso! “Não é meu pensamento ser técnico”, enfatiza o futuro comunicador.
Seja dentro da água, seja na beira da piscina, no palco de um auditório ou até mesmo filiado a um partido – Clodoaldo aceitou um convite do PSOL para liderar um projeto de inclusão social voltado para pessoas com deficiências –, o Brasil quer continuar te vendo fazer a diferença, ídolo!
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