Crédito foto: Divulgação / site oficial da Portuguesa
Pouco mais de 15 minutos. Foi esse o tempo que a Portuguesa de Desportos precisou para impulsionar sua caminhada rumo ao fundo do poço, há três anos. Hoje, com o início da Série C do Campeonato Brasileiro, um dos clubes mais tradicionais do Estado de São Paulo busca forças para, pelo menos, retomar um pouco de prestígio.
O estopim para a crise lusitana aconteceu no dia oito de dezembro de 2013, quando a Lusa disputava a última partida do Campeonato Brasileiro da Série A, diante do Grêmio, que terminou em 0 a 0. O então técnico, Guto Ferreira, decidiu trocar Wanderson por Héverton, aos 32 minutos do segundo tempo. Começava aí o maior pesadelo da história do clube.
Caso Héverton
Crédito foto: divulgação
Na sexta-feira que antecedeu o jogo, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva julgou o meia com duas partidas de gancho pela expulsão contra o Bahia. Héverton já havia cumprido uma diante da Ponte Preta, e sua segunda seria naquele domingo. Porém, o comunicado se perdeu no meio do caminho e não chegou nem no atleta e nem na comissão técnica, que sem saber de nada o escalou para enfrentar o Tricolor Gaúcho.
Como punição, a Lusa perdeu quatro pontos (três descritos no código e mais um que conquistou naquele empate) e terminou o campeonato na 17ª colocação, o que culminou com seu rebaixamento para a Série B. O trâmite beneficiou Flamengo e Fluminense, que também brigavam contra o descenso. Mas, foi sobre a equipe das Laranjeiras que recaíram uma série de suspeitas.
Osvaldo Sestário, então advogado terceirizado do time paulista e que estava presente no julgamento de Héverton, foi acusado de não repassar a informação ao departamento jurídico do clube, chefiado por Valdir Rocha. Porém, logo depois do ocorrido, caiu na internet uma foto de Sestário e sua esposa ao lado do jogador Fred, do Fluminense. Além disso, a senhora Juliana Bracks Duarte prestava serviços à Unimed, principal patrocinador do Tricolor carioca.
Mas, para o promotor de justiça, Dr. Roberto Senise Lisboa, responsável pelo caso na época, a culpa era de dirigentes da Lusa, incluindo o então presidente Manuel da Lupa. Para o Ministério Público de São Paulo, o erro na escalação do camisa 18 foi em troca de vantagens para funcionários do clube. Hoje, nada resolvido e problema segue arquivado.
O ano seguinte do “tapetão”
Por questões óbvias, Manuel da Lupa deixou a presidência e quem assumiu foi Ilídio Lico, no início de 2014. O caso Héverton, que também ficou conhecido como “tapetão” – em alusão a possível manobra do Fluminense para permanecer na elite do Brasileirão – ainda rendia, e a Portuguesa seguia esperançosa em reverter o rebaixamento.
Isso não aconteceu e o clube ainda passou vergonha em uma partida diante do Joinville. Já na Série B, quando uma liminar interrompeu o jogo aos 16 minutos do primeiro tempo. Com a queda, a Lusa deixou de ganhar pouco mais de 20 milhões de reais em cotas, assumiu um rombo de 30 milhões de reais em dívidas, viu inúmeros jogadores – e funcionários – entrarem na justiça cobrando atraso de salários e os patrocinadores fugirem. Assim, Ilídio renunciou em 2015.
Sétimo rebaixamentos em 13 anos
Se o que já estava ruim podia ficar pior, ficou, e muito. Em meio ao caos, mais dois rebaixamentos – onde está até hoje – para nocautear: Série C do Campeonato Brasileiro, em 2014, e A2 do Campeonato Paulista, em 2015, ou seja, sete descensos em 13 anos.
A primeira queda na história da Lusa para uma divisão inferior foi em 2002, último ano do formato mata-mata do Brasileirão. De 26 equipes, a Lusa ficou em 23º e a partir dali passou os próximos cinco anos disputando a Série B do nacional. A quem diz que a bancarrota começou ali, já que além da vergonha em campo, seu principal jogador, Ricardo Oliveira, deixava o time a custo zero e estimulava o início das dívidas.
Como voltar aos anos de glórias
Crédito foto: Reprodução Facebook oficial da Portuguesa
Para quem não conhece a história da Portuguesa de Desportos, não sabe o quão triste é ver um clube assim afundar. São 95 anos de conquistas importantes, como três Paulistas (1935, 1936 e 1973), um vice no Brasileirão (1996), um Campeonato Brasileiro da Série B (2011) e dois Torneios Rio-São Paulo (1952 e 1955). Aliás, a década de 50 foi incrível para a Lusa. Além dos títulos, colocou três atletas na Copa de 54 (Djalma Santos, Brandãozinho e Julinho) e recebeu por três vezes a Fita Azul, prêmio dado pela A Gazeta Esportiva para clubes que permaneciam invictos por dez jogos ou mais no exterior.
Algumas especulações dão conta de que só reformando o Canindé para um possível renascimento. Hoje, a dívida da Lusa gira em torno de 160 milhões de reais. Sendo assim, investidores teriam que quitar a parte com a prefeitura, regularizar o terreno, diminuir a capacidade do estádio e pensar em uma forma de aproveitar a boa localização – uma das principais vias de São Paulo, a Marginal Tietê, próxima ao Terminal Rodoviário Tietê, o maior da América Latina, e de ampla rede hoteleira, além de hospitais e três shopping centers.
Ou seja, não será fácil. Precisa ter muita força de vontade, limpar as laranjas podres que ainda contribuem – e se beneficiam – com a má fase e tirar o que está no papel para pôr em prática. Caso contrário, feche as portas e abre novamente com outro nome e vida nova, o que impossivelmente acontecerá.
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