Após fracassos, a Alemanha conseguiu se reinventar e tornar-se a melhor seleção do mundo, além da mais promissora e o que mudou o futebol alemão foram as categorias de base.
Após o fatídico 7x1 nas semi-finais da Copa do Mundo de 2014 milhares de brasileiros se perguntavam “O futebol alemão é tão bom assim?” e por conta disso, alguns jornais e canais de televisão investiram em matérias sobre o que transformou o esporte o país no atual campeão do mundo e até Dunga, treinador que assumiu a seleção brasileira após o mundial, foi atrás de respostas, chegando até a viajar para a Alemanha.
Para todos os alemães, uma coisa é certa: O pontapé inicial para a mudança foi a Eurocopa em 2000, na Bélgica e Países Baixos, seus vizinhos, quando os germânicos na época tri-campeões do mundo foram eliminados ainda na primeira fase da competição. Em um dos jogos do torneio, a equipe comandada pelo camisa 10 Lothar Matthaus chegou a empatar com a fraquíssima seleção da Romênia, gerando a revolta dos milhares de torcedores que viam pela primeira vez na história um desempenho tão pífio.
Segundo Paul Breitner, campeão do mundo em 1974, houve um recomeço: “Antes disso pensávamos em sistemas de dois anos, da Eurocopa para a Copa. Da Copa para a Eurocopa. Se ganhássemos a Copa, tudo estava ótimo e não precisava fazer nada. E ficávamos sem fazer nada, enrolando dois anos. E assim íamos levando, ganhando e perdendo, sem mudar nada. Mas se você vencer qualquer coisa sem jogar um bom futebol, um futebol de bom nível, você precisa pensar. E para mudar seu futebol tem que mudar em seis, oito anos”, disse o jogador.
Mas foi apenas em 2002, após perder para o Brasil na final que a federação alemã começou a interferir nas categorias de base dos clubes. O projeto consistia em um aperfeiçoamento das bases, sendo uma empresa credenciada pela federação responsável por analisar as condições e rendimento das equipes. A maioria dos times alemães já tinham em mãos algum centro de formação, mas poucos alcançavam a excelência. Com a prerrogativa de também auxiliar na educação das crianças, caso não atingissem a infraestrutura adequada, não poderiam disputar as duas primeiras divisões do país.
Em um país que “se respira, come-se e bebe-se futebol”, palavras do ex-atacante Oliver Bierhoff, a necessidade de acompanhar os jovens e dar a eles maiores noções sobre o esporte era grande e o país sediaria a próxima edição do mundial com fortes chances de título. Ele não veio, sendo a equipe eliminada pelo seu carrasco, a Itália, por 2x0 em um Signal Idunal Park abarrotado de torcedores, mas a confiança de que havia uma nova geração surgindo com enorme potencial acalmou os torcedores.
O trabalho nas categorias de base seria coroado apenas em 2009. Comandado pelo turco-alemão Mesut Ozil, considerado melhor jogador do torneio, a equipe foi campeã do campeonato europeu sub-21, organizado na Suécia. Dos jogadores que fizeram parte desse título inédito, sete deles figuraram na pré-lista do time que viria a ser campeão mundial em 2014. São eles: Neuer, Howedes, Hummels, Schmelzer, Boateng, Khedira e Ozil.
A participação da nova safra foi fundamental para a conquista, pois apenas Klose, jogador que fez parte de inúmeras frustrações da seleção na última década, não chegou a passar pelo novo modelo de gestão e a seleção, em mais de 10 participações em copas, levou ao Brasil o elenco com a menor média de idade da história. Não só formando jogadores, o projeto da federação alemã garimpou novos treinadores pelo país, criando cursos capazes de transformar pessoas em professores para os mais jovens, apostando também na reciclagem dessa modalidade.
Hoje com 366 centros de apoio da federação alemã espalhados pelo país, o futuro parece muito mais promissor para o futebol alemão. A Bundesliga é responsável pela maior média de público do mundo, tendo média de cerca de 40 mil por jogo e a importância do futebol para a sociedade foi muito bem observada, traçando um projeto que colhe frutos não só para o presente, mas para as próximas gerações que serão envolvidas pelo esporte. O futebol no país nunca foi sinônimo de excelência, mas nunca antes na história, após a reinvenção, tornou-se tão atrativo.