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Não basta saber jogar; Brasil tem que querer jogar e entender o jogo

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Futebol de rua: crianças brincando no asfalto. A prática do futebol em condições alternativas é um dos grandes responsáveis pela quantidade colossal de talento brasileiro (Créditos de imagem: BONOMIA)


Como em qualquer jogo, há uma conjunção de fatores que dão, por consequência, o resultado. No futebol, em que o fator do imponderável é mais capaz de aparecer, estes fatores contextuais podem se tornar pó em questão de fração de segundos. Esta situação descrita ocorre em qualquer lugar do mundo, ok. Porém aqui no Brasil é rotina, já que estes contextos inexistem por aqui.

Será que aquele garoto que "dibra" com uma facilidade imensa sabe o que é compactação e da sua importância? Ou aquele menino que tem um chute potente como uma bomba tem ideia da necessidade de triangulações? Provavelmente, a resposta dos dois questionamentos deixados aí é um claro "não". Todavia, isto não quer dizer que os mesmos não saibam executá-los, na prática – pelo contrário, até, já que em lampejos movimentos assim ocorrem de maneira intuitiva. Uma coisa vive da outra, e vice-versa. Não há como praticar futebol (ou qualquer atividade que seja) sem que o lado cognitivo e o lado elaborativo funcionem em conjunto, assim como o lado físico, o lado emocional, etc.

O Brasil, futebolisticamente dizendo, é abençoado, tendo inúmeros praticantes habilidosos, seja na quadra, no asfalto, na areia, no cimento, na terra ou no gramado. Pé-de-obra, o lado prático, tem de sobra no Brasil. O que há em falta no Brasil é a junção dessa excelência prática com o lado teórico. Diante da evolução que o futebol ganhou nos últimos anos, com conceitos evidentes e complexidade no jogo, não há mais condição da magia funcionar por si só. Agora, ela é como um botão emergencial que deve ser acionado apenas quando as situações naturais não causam efeito positivo. Dentre essas situações, estão organização, equilíbrio, estratégia, treinamentos, entre outras mais.



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Neymar celebra gol atuando pelo Barcelona. Diante da necessidade de adaptações, as diferenças em seu estilo de jogo desde que saiu do Santos e foi para Barcelona são evidentes (Créditos de imagem: FC Barcelona)



Obviamente que não precisa o moleque de favela ser um Guardiola, ou o guri do subúrbio ser um Ancelotti. Mas é mais do que necessário que os mesmos tenham a noção da importância dos "professores" e assim ouvi-los, de início obedecê-los, e posteriormente tentar compreendê-los o máximo possível. Neymar, por exemplo, não é um gênio tático, já admitiu em entrevista não ter conhecimento profundo do assunto, mas busca entender no que pode e cumpre dentro da cancha, é um jogador disciplinado taticamente. Mas o atual menino de ouro do futebol brasileiro é exceção – não só tecnicamente. As regras, das duas, uma: quando potenciais diferenciados aparecem no futebol brasileiro, o maior objetivo é sempre escapar do inescapável, que é descartar suas necessárias obrigações dentro de campo, já que o jogador é especial. E com isso, cria jogadores se achando mais do que realmente são, que por vezes acabam levando isso para fora de campo, e assim vai. Ou então, o inverso, onde os mesmos meninos já chegam com tal mentalidade prepotente arraigada em si, e além de não haver esforço do outro lado para combater isto, por vezes o absurdo é até alimentado. Ambas situações causam um efeito dominó, graças à fuga de responsabilidade dos dois lados, ocasionando desastre.

O esporte em si foi feito para e tem que ser assim: ter efeito disciplinador. Há uma doutrina a ser imposta a qualquer um, não importa a quem. Assim como foi feito para diversão, brilho. Tem que haver interesse e, acima de tudo, responsabilidade. E de forma mútua. Caso contrário, nada adiantará. As elaboradas filosofias e as habilidades desconsertantes, separadas, eram, são e serão inúteis. Juntas, elas ficaram, ficam e ficarão muito mais próximas da excelência no jogar futebol.

Categorias: Futebol, selecão, Brasil

Felipe Balbino

Escrito por Felipe Balbino

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