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Com o início dos Jogos Olímpicos há poucos dias de distância, é impossível, se tratando de Brasil, não fazer uma avaliação do momento que vive a equipe de futebol que vai representar o país no Rio de Janeiro. Com uma geração promissora que conta com diversos talentos, a atual crise política da CBF passou perto de arruinar o trabalho construído por Alexandre Gallo e Rogério Micale nos últimos quatro anos. Com a demissão de Dunga e a permanência de Micale no comando da equipe olímpica, o Brasil volta a ser favorito na briga pela medalha de ouro, retomando a confiança de jogadores, comissão técnica e torcedores.
O início da crise e a saída de Alexandre Gallo
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A Seleção Brasileira vive em uma montanha russa desde a Copa do Mundo de 2014. Se não bastasse o 7x1, que trouxe à tona toda a discussão da necessidade de modernizar e investir no esporte nacional como um todo, de modo que se torne um produto mais atrativo para o mercado interno e externo.
Os casos de corrupção envolvendo a presidência da CBF fez com que o Brasil caísse em total descrédito no cenário mundial. Ao contrário do que se esperava, os cartolas da CBF, que são acusados e investigados pelo FBI, continuam exercendo seus cargos e nada foi feito para iniciar um trabalho de reconstrução de imagem do esporte nacional.
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Em meio a toda essa discussão, era impossível deixar de lado exemplos dados por Alemanha e Estados Unidos, que realizam um trabalho de base que une clubes, federação e até órgãos públicos para atingir o maior número de jovens possível, tornando o trabalho esportivo e também social.
Com as Olímpiadas batendo à porta, viu-se a última grande oportunidade de dar o pontapé inicial em um trabalho similar, uma vez que a Copa do Mundo sediada no país não foi aproveitada para colocar em prática um trabalho profissional de longo prazo.
Em resposta a todos os escândalos e a necessidade de mudanças, a CBF demitiu Alexandre Gallo do comando das categorias de base da seleção e trouxe Dunga de volta ao comando da principal. Para piorar, Gilmar Rinaldi, ex-empresário, também foi chamado para ser coordenador de Seleções, levantando suspeitas sobre o seu real papel dentro da entidade. Isso, somado a falta de profissionalismo dos clubes que não tomam a iniciativa para ir contra as medidas tomadas pela CBF, resultou em mais dois anos de trabalho jogados fora.
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Até hoje a demissão de Alexandre Gallo não foi totalmente explicada pela presidência da CBF, mas sabe-se que as diferentes visões de como realizar o trabalho, principalmente com Rinaldi, fizeram com que Gallo fosse demitido. O atual treinador do Náutico, conquistou três títulos com a seleção de base entre 2013 e 2015 e iniciou talvez um dos melhores trabalhos já feitos com os jovens atletas brasileiros, instaurando uma mentalidade vencedora, uma filosofia de jogo e mantendo um trabalho de altíssimo nível profissional.
A desculpa para sua saída, foi o quarto lugar no Sul-Americano Sub-20, onde de última hora, o treinador perdeu cinco jogadores por lesão. Mesmo assim, se tratando de categoria de base, títulos nunca devem ser a prioridade, senão a formação do jovem como atleta, o ensinamento de uma filosofia de jogo e a introdução ao profissionalismo, valores que eram claros no trabalho de Gallo e que nunca fizeram parte do vocabulário da CBF.
Dunga vai mal e quer o lugar de Micale nos Jogos Olímpicos
Enquanto a Seleção principal perdia ainda mais o pouco do brilho que lhe restou nas mãos de Dunga e Rinaldi, Rogério Micale assumiu as categorias de base. Com experiência na área, tendo trabalhado em diversos clubes do Brasil, foi contratado sob desconfiança. Tal desconfiança nunca teve a ver com sua capacidade ou não de assumir o cargo, mas porque naquele momento, todas as decisões tomadas pela CBF não inspiravam confiança.
Com o passar do tempo, Micale continuou o trabalho e mostrou ser o homem certo para comandar a Seleção nos Jogos Olímpicos do Rio 2016 principalmente depois do vice-campeonato Mundial Sub-20, onde a equipe brasileira mostrou os resultados de seu trabalho, arrancando elogios de toda a imprensa esportiva.
A triste notícia veio quando a CBF anunciou que Dunga comandaria o Brasil no Rio de Janeiro. Péssimas decisões vindas da entidade não surpreendiam mais, mas a indignação foi grande. Micale treinou a equipe nos últimos dois anos, estudou sobre os atletas e disputou o principal torneio da categoria. É evidente que ninguém conhece a equipe melhor do que ele, mas Dunga, que nunca sequer participou de alguma etapa do trabalho olímpico, era o nome escolhido. Vale lembrar que o técnico da seleção principal tem o direito de escolher se quer ou não comandar o time olímpico, mas que sobrou soberba e faltou bom senso para o agora (e ainda bem) ex-técnico da Seleção Brasileira, não há dúvidas.
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A demissão de Dunga é a melhor notícia para o torcedor e para a Seleção Olímpica
Após o vexame na Copa América Centenário, Dunga mostrou mais uma vez a total falta de preparo para estar à frente de uma equipe de alto nível. Enquanto todos os treinadores participantes aproveitaram a competição para treinar a equipe principal e colocar em prática ideias que o calendário atual não permite a um técnico de seleção, Dunga fez uma convocação que mesclou jogadores olímpicos com da seleção principal. Tudo porque, por nunca haver treinado a equipe de base, precisava de uma desculpa para conhecer os jogadores que comandaria em agosto. O resultado não poderia ser outro. Dunga não treinou nem a equipe principal e nem a olímpica e, dentro de campo, o Brasil foi um fracasso.
Com Dunga e Gilmar Rinaldi demitidos, Tite finalmente foi chamado para o tão merecido cargo de treinador. Se a seleção principal perdeu dois anos de trabalho e se Tite terá agora de dar respostas rápidas nas Eliminatórias, Micale e a equipe olímpica saíram ganhando. A CBF já enviou a relação de jogadores e comissão técnica para a organização dos Jogos Olímpicos e Micale permanece como técnico da equipe sub 23 que vai representar o Brasil.
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Conclusão do autor
A conclusão é óbvia: a demissão de Dunga foi a melhor notícia que o Brasil Olímpico poderia ter. Deixando de lado o momento que vive a equipe principal, por hora fora da Copa do Mundo de 2018, Dunga seria um verdadeiro desastre a frente dos garotos. A notícia de sua demissão fez com que o Brasil voltasse a ser considerado favorito ao ouro inédito. Com Micale, já existe uma sintonia entre comissão técnica e jogadores, coisa que, com Dunga, jamais existira em tão pouco tempo e com um trabalho para lá de questionável. Agora, a preparação continua sem medo de ser interrompida e a confiança de todos, até mesmo dos torcedores, está de volta. Tudo isso porque ficou quem merecia e saiu quem não tinha capacidade. Nada mais justo.
O Brasil tem agora os profissionais certos para o trabalho, mas não são os profissionais que a CBF merece. Independente de Tite e Micale, o trabalho de reconstrução de imagem da Seleção Brasileira é longo e não vai começar de verdade enquanto os verdadeiros culpados por isso não deixarem seus cargos.
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