“O campeonato carioca tem que acabar”
Foi com essa frase que Fred saiu de campo ao ser expulso diante do Flamengo, em jogo válido pelo campeonato carioca de 2015. O atacante do Fluminense levantou apenas uma bandeira que é constantemente agitada ano após ano durante o início dos campeonatos estaduais. São inúmeros aqueles que defendem o seu término.
Eles reduzem na medida em que as disputas vão afunilando e chegando nas fases decisivas depois de algum período sem grande emoção e acabam se juntando aos defensores. Nessa reta final, é importante fazer uma reflexão sobre os prós e contras dos nossos estaduais.
Calendário
A maior crítica é em relação ao calendário. Ocupando praticamente um terço do ano, a maior parte é levada de maneira arrastada e sem muita empolgação por parte do torcedo. Diversos jogos recebem um público pífio, em parte em razão da falta de bom senso no valor cobrado.
Por outro lado, os clubes mais fortes conseguem utilizar o período para fazer uma pré-temporada mais competitiva. Apesar das constantes reclamações do volume de partidas, é comum que se poupe titulares em algumas partidas. A eliminação desta etapa retardaria o ritmo de jogo para outras competições importantes, como a Libertadores.
Além disto, as federações não podem esquecer que muitos dos clubes devem sua existência aos torneios estaduais. Após o término da competição, a massacrante maioria que não está presente nas séries A, B e C do nacional ou conseguiu a vaga na série D precisa aguardar a virada do ano para voltar a jogar. Para estes clubes menores, o estadual é simplesmente a razão de existir, especialmente depois das mudanças na legislação que deram maior autonomia para os jogadores.
No final das contas, os estaduais acabam por juntar o útil ao agradável. Uma pré-temporada com jogos mais leves e que vão acentuando seu nível até que seja hora das grandes finais que são um grande preparativo para a fase final da Libertadores e do Brasileiro. Ainda ajudam na sobrevivência de diversos clubes e servem como garimpo de craques.
Bom também para os grandes
Mesmo para as grandes equipes, o estadual tem grande validade técnica e econômica. Uma vez que o futebol se tornou um negócio, a parte financeira deve ser considerada e o clube, para ter receita, precisa jogar. Seja na venda de ingressos ou na venda de camisas e artigos do clube, é preciso estar em evidência para estimular o torcedor.
Ainda neste âmbito, os estaduais apresentam importância na aproximação com seus torcedores que, muitas vezes, só podem ver o clube do coração nas partidas realizadas pelo interior. Na parte técnica, é uma oportunidade de colocar o time em ritmo com ambiente competitivo e, principalmente, experimentar jogadores da base. Os times menores, por fim, acabam sendo também uma vitrine para jogadores novos.
Hora de rever
Os pontos positivos, porém, não significam que o formato atual é ideal. Os estaduais precisam se adaptar ao cenário atual onde, independente de gosto, perderam a importância de outrora. O período é longo, com muitos jogos sem apelo e sem qualidade. Os regionais (Copa do Nordeste, Copa Verde e a Primeira Liga) vem ganhando força e é preciso ajustar.
Isto também não significa que devemos defender um radicalismo. Nem os estaduais são perfeitos e devem seguir da mesma forma, nem são horríveis e devem ser erradicados. Pequenos ajustes na quantidade de jogos e regulamento poderiam torná-los ainda mais atrativos, sem a monotonia de boa parte das fases iniciais.
Apesar dos problemas, é inegável que os torneios estaduais continuam tendo seu charme. O popular “estadual não vale nada” não condiz que o espírito de rivalidade e de jogos emocionantes na reta final.