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Quebrando o tabu! Tiffany Abreu e a questão dos transexuais no esporte

Written by Isadora Travagin | 2/mar/2017 16:00:00

Crédito foto: Reprodução / Facebook oficial Fenera Chieri ‘76

Você já deve ter ouvido falar de Tifanny Abreu, 32 anos, 1m94 de altura, oposta e jogadora da segunda divisão do vôlei feminino na Itália. E o porquê é que o caso em questão tem gerado uma certa polêmica - e muitos preconceitos - uma vez que seu nome de batismo é Rodrigo.

Seu jogo de estreia aconteceu no dia 19 de fevereiro deste ano, através do time Golem Volley, da cidade de Palmi-ITA – e foi um sucesso, diga-se de passagem. Ela foi o destaque, sendo eleita a melhor em quadra e bastante aplaudida. Foram 28 pontos anotados na vitória por 3 sets a 1 sobre o Delta Informatica Trentino.

Em entrevista ao GloboEsporte.com, a oposta afirmou: “O ginásio estava lotado, foi muito lindo. O público me abraçou, me fez me sentir em casa. As meninas me trataram como uma irmã. E foi muito bom para mim. No dia seguinte, ela recebeu flores - quebrando o tabu - e foi parabenizada por Mauro Fabris, presidente da Liga Italiana.

Crédito foto: Reprodução / Facebook oficial Get Sport Media

Antes da conquista, a jogadora chegou a jogar durante 2008 e 2009 pela equipe masculina Esmoriz, em Portugal. Sua transição de sexo começou em 2013, quando começou a realizar tratamento hormonal – que dura até hoje. Apesar da mudança ter acontecido em 2014, a atleta ainda jogava por times masculinos até o início deste ano – como por exemplo na Espanha, França, Holanda e Bélgica. No Brasil, Tiffany chegou a atuar na Superliga B masculina em times de Juiz de Fora e Foz do Iguaçu.

A jogadora conquistou um feito histórico ao se tornar a primeira transexual brasileira a conseguir autorização da Federação Internacional de Vôlei (FIVB) para jogar em um time feminino. Atenção para o termo brasileira, pois ela foi a segunda atleta trans a ser aceita na Itália – a primeira foi a líbero Alessia Ameri, em março de 2016, também na segunda divisão da Liga Italiana feminina de vôlei – enquanto que hoje, no Brasil, não há nenhuma solicitação de registro de jogadores trans.

Crédito foto: Divulgação / LaPresse / Massimo Paolone

A polêmica citada no primeiro parágrafo é que pode virar caso na justiça devido ao seu passado. O diretor-geral Emanuele Catania, da equipe adversária Millenium Brescia, chegou a ameaçar fazer queixa contra Tiffany devido a sua “vantagem física” – contudo, ter sido homem não afeta em seu potencial hoje, com o controle hormonal, sua força caiu cerca de 60% e seu salto diminuiu 45 cm (antes saltava 3m60 e agora salta 3m15). "Espero que as reclamações [dos adversários] deem em nada. As regras dizem que ela legalmente é uma mulher. Uma mudança de sexo não é um passeio. A Tiffany contou-me o quanto sofreu. Quem a ataca é um hipócrita", afirmou o treinador do Golem Volley, Pasqualino Giangrossi.

Crédito foto: Reprodução / Facebook oficial Golem Volley

Ainda na entrevista ao GloboEsporte, a jogadora desabafou: “As pessoas falam muito. Chegaram até a dizer que eu quebrei o dedo de uma menina no treino, sendo que eu nem estava no treino quando isso aconteceu. São boatos. Ficam perguntando se eu posso jogar, se eu tenho mais força ou vantagem. Eu não tenho vantagem nenhuma. Eu simplesmente sou uma jogadora boa. Eu tenho a força de uma jogadora boa, de uma mulher boa. Nível de Seleção. Simplesmente isso. Eu estou dentro da lei. O meu nível de testosterona está baixíssimo. Eu fiz toda a minha transformação, não há nada de errado. Se eu fosse ruim, ninguém comentaria”.

Falando em nível de testosterona, desde janeiro de 2016 o Comitê Olímpico Internacional (COI) diminuiu o número de restrições para atletas transexuais: antes era exigido a cirurgia de adequação de sexo e tratamento com hormônios por, pelo menos, dois anos, além de terem reconhecimento legal – ou seja, por lei – quanto ao seu gênero verdadeiro; hoje, todas as restrições para homens trans estão suspensas, apesar de não ser mais necessário a cirurgia para ambos os sexos, as mulheres, no entanto, deverão submeter-se a exames de testosterona constantes para comprovar que o nível está abaixo de dez nanomol por litro de sangue.

O norte-americano Chris Mosier foi um exemplo das novas regras. Ele foi o primeiro atleta transexual a competir entre os homens sem ter passado por cirurgia em uma prova de duatlo.

Crédito foto: Reprodução / Facebook oficial Chris Mosier

Mas o primeiro caso de um trans em torneios veio do tênis, com Richard Raskins – que disputou no masculino entre as décadas de 1950 e 1960 até 1975, aos 41 anos, quando passou por uma cirurgia de mudança de sexo e adotou o nome Reneé Richards. Voltou a disputar em 1977 e chegou à final de duplas do US Open ao lado de Betty Ann Grubb Stuart. Também chegou à semifinais do mesmo campeonato em 1979. Sua história foi retratada no filme "Second Serve" (Jogo Perigoso, no Brasil) de 1986, e também inspirou um documentário da ESPN, lançado em 2011 com o mesmo nome.

A participação de atletas transexuais é um marco e um sinal positivo de que os esportes podem atuar de maneira positiva quando falamos de inclusão de pessoas trans na sociedade.

Apesar de 20 atletas LGBT’s terem competido nos esportes olímpicos do Rio 2016, nenhum deles eram trans – aliás, nenhum trans jamais esteve em uma Olimpíada, e o COI pretende mudar isso. Será que veremos nossa brasileira nos próximos Jogos?

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