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Estamos há pouco mais de um mês para a abertura dos Jogos Olímpicos de 2016. Neste ano os jogos serão realizados na cidade do Rio de Janeiro. Como já é de tradição nas Olimpíadas, a tocha olímpica é acesa na Grécia, país onde os jogos se originaram, e percorre o país sede durante o período que antecede o início dos jogos.
Este ritual é um dos momentos mais emocionantes dos jogos, primeiro por carregar mais de um século de tradição, mas principalmente por cada país escolher personalidades e figuras que representem o seu povo para participarem do revezamento da tocha. É neste momento que o mundo volta seus olhos para o país sede.
O revezamento da tocha no Brasil vai passar por mais de 300 cidades em um total aproximado de 20 mil km, com quase 15.000 condutores. Mas, infelizmente, um momento que seria de consagração para o nosso país, tornou-se um capítulo lamentável dentro da nossa trajetória como país sede.
Durante a passagem da tocha olímpica pela cidade de Manaus, um dos locais escolhidos para sua exibição foi o Centro de Instrução de Guerra na Selva (Cigs). Como já é comum em desfiles militares na cidade, felinos capturados e mantidos sobre os cuidados do exército participam do evento e costumam ser exibidos. Nesta ocasião, o animal exposto se chamava Juma, uma onça-pintada com cerca de oito anos.
Após o encerramento da cerimônia no Cigs na última segunda-feira (20/6), as autoridades relatam que Juma tentou fugir, obrigando os veterinários a tentarem fazer com que ela dormisse com o uso de dardos tranquilizantes, no entanto, Juma não desmaiou rápido o suficiente e avançou contra um dos militares.
"Como procedimento de segurança, visando a proteger a integridade física do militar e da equipe de tratadores, foi realizado um tiro de pistola no animal, que veio a falecer", afirmou o órgão responsável pelo animal.
O Comitê Olímpico também se manifestou: “Erramos ao permitir que a Tocha Olímpica, símbolo da paz e da união entre povos, fosse exibida ao lado de um animal selvagem acorrentado. Essa cena contraria nossas crenças e valores. Estamos muito tristes com o desfecho que se deu após a passagem da tocha. Garantimos que não veremos mais situações assim nos Jogos Rio 2016”.
Não quero aqui entrar em méritos políticos, mas a presidente afastada, Dilma Rousseff, escreveu em seu Twitter na semana passada: "O meu governo viabilizou as Olimpíadas. Graças ao planejamento bem feito e ao nosso trabalho dedicado, estamos prontos", com todo o respeito, Dilma, nós não estamos prontos.
Este é meu primeiro texto no portal Esportudo.com e eu adoraria estar escrevendo sobre a vitória de ontem do Palmeiras ou sobre como desde 2009 meu time não se mantinha na liderança do Campeonato Brasileiro, no entanto, este caso escancarou um absurdo tão grande que eu não pude deixar de escrever. Pior, este absurdo é permitido por lei.
O ser humano, teoricamente dotado de capacidade racional, retira um animal do seu habitat natural e utiliza este animal como parte decorativa de sua festa, mas quando o animal, naturalmente, não reage da forma esperada, as autoridades optam por sacrificar o animal. Isto é errado de tantas maneiras que fica até difícil me manifestar de forma educada sobre o caso.
No período de um mês, este é o terceiro grande caso de animal exposto e sacrificado após algum problema causado pelo homem ou por situação alheia ao animal. Repito, terceiro. No final de maio, um gorila foi sacrificado a tiros no EUA, após uma criança cair dentro do espaço, onde o animal era exibido.
Pouco mais de uma semana atrás, um aligátor, considerado um "primo" do jacaré do Pantanal, arrastou um menino de dois anos de idade para dentro de um lago localizado dentro da propriedade de um resort da Disney. Dois animais foram mortos e abertos para que fossem procurados vestígios do menino. O corpo do garoto foi encontrado intacto no fundo lago alguns dias depois.
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Enquanto escrevia este artigo me recordei do semestre que passei em Lisboa por conta da faculdade. Eu, como um bom amante do esporte, frequentei bastante o estádio da Luz e o estádio José Alvalade, estádios do Benfica e do Sporting, mas sempre gostei mais de assistir aos jogos do Benfica, em partes pelo ritual que precede as partidas. Desde 2003, em todas as partidas do Benfica, salvo raras exceções, a águia Victoria, uma imponente águia-careca canadense de dois metros de envergadura, sobrevoa todos os setores do estádio até aterrissar no centro do gramado. É, sem dúvidas, um espetáculo belíssimo de assistir, mas enquanto escrevia me veio esta reflexão, qual o custo para o animal? Victoria é submetida uma rotina semanal estressante, não sou especialista, mas acredito que não deva ser saudável para o animal se submeter aos olhares, gritos e flashes de mais de 60.000 torcedores.
O esporte é um dos espetáculos mais bonitos do planeta, possivelmente o que mais envolve sentimento e paixão. Escrever e conversar sobre esporte é algo que me dá prazer, é um universo que encanta e nos fascina. Não deveria ser necessário perturbar os animais buscando abrilhantar aquilo que, por si só, já é belo.
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