Organizadores da Exposição "Espírito Olímpico" com Vera Mossa e Isabel Salgado. Crédito foto: Esportudo.com | Nina Ratti
Dando o primeiro saque na inauguração da exposição “Espírito Olímpico”, um bate-papo descontraído com as veteranas do vôlei Isabel Salgado e Vera Mossa. Rolou nesta última quarta, dia 24 no Teatro Eva Herz da Livraria Cultura do Conjunto Nacional em São Paulo.
Apesar de gratuito e acessível, a presença do público foi reduzida. Cerca de vinte expectadores puderam ver de perto a grandiosa Vera Mossa, ora conhecida como a “mãe do Bruninho”. Ele mesmo, o filho do treinador Bernardinho da seleção brasileira de vôlei masculina, campeã na Rio 2016. Vera começou bem cedo. Com apenas quinze foi para Moscou jogar sua primeira Olimpíada em 80. Depois foi à Los Angeles em 84 e por último a Seul em 88.
Vera Mossa, jogadora de vôlei dos anos 80. Crédito foto: Esportudo.com | Nina Ratti
O dueto da tarde foi com a imensa Isabel Salgado, atleta carioca participante das duas primeiras olimpíadas junto com Vera. Isabel competiu grávida até o sexto-mês, escandalizou a sociedade da época e continua com uma forte e incisiva garra em seu discurso. Tem quatro filhos, dentre eles, Pedro Solberg, atleta olímpico companheiro de Evandro no vôlei de praia neste ano.
Ambas compartilharam como foi participar dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016 na qualidade de “mãe”. Vera chegou ainda meio sem voz por conta dos berros pelo Bruninho. “Não fui de férias. Fui para a batalha. Eu levei dessa forma a Olimpíada: torcer, gritar e sofrer.” Isabel completa: “Cadê o espírito olímpico? Mãe sofre o tempo todo”. De uma família que pretendia seu máximo afinco nos estudos, Isabel sente que o esporte está diretamente “linkado” com a educação.
Os pontos positivos e negativos, falhas e fraquezas como possibilidades de revisar nossos comportamentos e atitudes exprimem nosso modo contraditório de ser e torcer. Isabel parafraseia Nelson Rodrigues: “Brasileiro vaia até minuto de silêncio”.
Isabel Salgado, jogadora de vôlei dos anos 80. Crédito foto: Esportudo.com | Nina Ratti
Lidar com a derrota é muito difícil. Assistindo às competições de esgrima, observou a agressividade de torcedores desconhecedores das características e posturas da modalidade, gritando: “Espeta ele! Fura o cara!”.
As vitórias e as derrotas são dilemas humanos. Nós brasileiros não temos uma relação boa com a derrota embora sintamos um vazio logo após a vitória. “A vitória tem esse lado besta'', confessa com franqueza Isabel.
Vera relata da decepção de seu filho Bruninho na Olimpíada anterior no ano de 2012 em Londres com a conquista do segundo lugar. O jovem nem deu valor à medalha de prata. Ficou muito triste e 2016 lhe serviu como uma revanche de algo entalado na garganta.
“O esporte, de uma forma compacta, é a cara da vida” conclui a colega carioca.
Abordou-se ainda a dificuldade do povo verde-amarelo em lidar com as regras. “O esporte te obriga a lidar com o concreto desde muito cedo”, lembra Isabel.
Ultrapassando a peculiaridade nacional, citou o caso do episódio envolvendo os nadadores americanos Ryan Lochte, Gunnar Bentz, Jack Conger e Jimmy Feigen no qual houve uma falsa denúncia de assalto desmascarada pelas câmeras de segurança e depoimentos vergonhosamente desmentidos. Assista ao vídeo com um trechinho da palestra no qual Isabel comenta a respeito das questões éticas, do “Caso Lochte”, questões de honestidade, educação dos filhos e as lições da prática olímpica:
Questionadas sobre a adesão do público à Olimpíada Paralímpica, Vera expõe a percepção de sua mãe que diz sentir muita angústia ao assistir às competições. No contraponto, Isabel, que conviveu com casos de surdez na família, acha que não é por este motivo que as pessoas não acompanham o evento, mas pela falta de incentivo e estrutura. Isabel exemplifica lições de vida com a superação deste cenário pouco favorável no qual Isaquias Queiroz, canoísta nordestino que superou a pobreza extrema e a falta de um rim arrematando duas medalhas de prata e uma de bronze na Rio 2016. “Um ídolo não resolve os problemas de estrutura. O Guga Kuerten encantou o mundo, entretanto depois dele criamos poucos campeões”.
Sabendo das polêmicas ocorridas com a comissão técnica australiana nas críticas à Vila Olímpica na Rio 2016, Isabel e Vera recordaram das dificuldades de suas vivências passadas nos Jogos Pan-Americanos na Venezuela em 83. Na chegada ao alojamento, se depararam com uma construção inacabada e desprovida de piso. Nada estava pronto e tinha até problemas nos chuveiros, sorriem as campeãs que permaneceram por falta de opções e enfrentaram as adversidades.
As fotos, vídeos, painéis e informações sobre natação, ginástica, vôlei, atletismo, tiro esportivo e o hipismo? Além dos ícones do esporte brasileiro como Adhemar Ferreira da Silva e Maria Lenk, os irmãos Grael, Robert Scheidt e os atuais Daniel Dias e Arthur Zanetti e suas façanhas. Nenhuma mídia ou internet substitui o contato visual e comunicativo com atletas que viveram na pele, nos braços, pernas e joelhos, a emoção das quadras, a vibração da expectativa, a adrenalina do momento, a preparação diária, o suor, as lágrimas, o treinamento e a determinação para um objetivo comum.
Mas já que você perdeu a palestra com as divas daquela geração do vôlei e já sente saudades dos Jogos Olímpicos de Verão... Enquanto espera por Tóquio 2020 aproveite para rememorar a história do esporte e mantenha acesa dentro de si a chama do espírito olímpico.
A exposição “Espírito Olímpico” vai até dia 15 de setembro, no Conjunto Nacional que fica na Av. Paulista, nº 2013 em São Paulo. De segunda à sábado das 9 às 21h e aos domingos das 10 às 21h.
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