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Ciclismo: "O Diabo de Saiote" - Alfonsina Strada

Written by Nina Ratti | 13/ago/2016 10:32:00


Crédito foto: Divulgação

Ciclistas pioneiras na história contemporânea.

Já ouviu falar de Alfonsina Strada? 

Uma ragazza no Giro d’Italia em 1924? Mamma mia! Espanto... A atleta de número 72 era Alfonsina Strada. Rapariga de rosto arredondado, cabelos curtos e corporatura musculosa. Foi ela a única mulher participante oficial do Giro.

Totalizando 3.613 km na 12ª edição da competição, os doze trabalhos de Hércules, ou seja, as doze etapas foram realizadas de 10 de maio a 1º de junho daquele ano. Giuseppe Enrici levou o troféu. Contudo, a atração foi mesmo “il diavolo in gonnella”, traduzindo, “o diabo de saiote”.

Alfonsina Strada à direita e o corredor Giovanni Gerbi à esquerda, 1923. Crédito foto: Divulgação | Bikeraceinfo.com

Alfonsa Rosa Maria Morini, a legendária Alfonsina Strada, nasceu na pequenina localidade de Riolo, no município de Castelfranco Emilia, na Província de Módena, na Itália, em 1891. De família pobre, a terceira de nove filhos já estreava nas pistas em 1907 com a bicicleta de seu pai, humildemente presenteada na falta dos brinquedos.

Ciclista italiana Alfonsina Morini Strada, primeira mulher a correr o Giro d’Italia em 1924 | Crédito foto: Divulgação

Aos 24 anos, pressões familiares e sociais fizeram Alfonsina se casar com Luigi Strada. O marido, homem inteligente e à frente do seu tempo, compreendeu logo a paixão da esposa. O presente de casamento adivinhe só? Uma flamejante bike masculina de corrida com o guidão curvo para baixo! Mudam-se para Milão e Luigi se torna seu treinador e maior incentivador.

Em 1924, Emilio Colombo, diretor do jornal italiano Gazzetta dello Sport, surpreendentemente aceita a inscrição de Alfonsina no Giro d’Italia. Na etapa Aquila-Perugia, chuva na cabeça e vento forte, a ciclista chega além do tempo limite e, para tristeza dos fãs, é excluída da prova. Colombo compreende a grande curiosidade, admiração e estima do público e resolve lhe dar mais uma chance. Daí por diante patrocina pessoalmente sua estada e seu massagista. Somente 30 dos 90 corredores iniciais cruzaram a reta final em Milão. Junto com eles, seguindo os mesmos horários e regras, lá chegava Alfonsina Strada. A heroína não conquista lugar no pódio, mas sua garra e carisma conquistam a estima de muitos figurões. Dentre eles, jornalistas renomados como Armando Cougnet e corredores famosos como Costante Girardengo.

Artigo sobre Alfonsina no jornal italiano Gazzetta dello Sport de 14 de maio de 1924 | Crédito foto: Divulgação

Ficou viúva e casou-se novamente em 1950 com um ex-ciclista, Carlo Messori. Mesmo pendurando as sapatilhas, jamais abandonou o pedal. Abriu uma loja de bicicletas e consertos. Quando seu segundo marido faleceu, continuou em sua casa milanesa e manteve tanto a loja quanto a oficina. Astros do ciclismo como Gino Bartali, Fausto Coppi e Fiorenzo Magni apareciam com frequência para cumprimentá-la. Que honra! (para Bartali, Coppi e Magni...). Ao final da vida rendeu-se ao motor e comprou uma moto Guzzi 500, vermelha. Era um domingo de 1959. Depois de assistir satisfeita à famosa Tre Valli Varesine, uma corrida anual de ciclismo realizada na Lombardia, no norte da Itália, ao tentar dar a partida na moto para leva-la até sua loja e retornar à casa com sua bicicleta, teve um ataque cardíaco, caiu abraçada ao guidão e se foi para sempre. 

Na tumba de Alfonsina em Cusano Milanino, província de Milão, uma bicicleta de bronze é o amuleto da paixão de uma vida inteira. E mais do que isso, a rebelião, superação de si, do tempo e dos homens iconiza a emancipação feminina, a audácia, a tenacidade e a coragem da primeira de muitas mulheres que abririam a “estrada” àquelas que viriam.

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