No bagunçado futebol brasileiro existe uma infinidade de possibilidades para uma série de resultados ruins. Falta de confiança, elenco frágil, problemas políticos ou mesmo o azar são alguns dos motivos frequentes para um desempenho ruim em campo, mas parecem insuficientes para mudar uma rotina que parece certa: culpar o treinador.
A troca de comando em momento de crise é a primeira atitude de quase toda diretoria para tentar corrigir um problema, ainda que o diagnóstico seja muito maior. Por vezes, a troca acontece duas ou três vezes no mesmo campeonato antes de finalmente chegar a uma conclusão comum – o problema raramente é o treinador.
É verdade que por vezes o efeito da troca estimula os jogadores diante do novo comandado, fator esse que costuma passar depois de duas ou três rodadas. É difícil cravar se o antecessor não poderia ter obtido os mesmos resultados, poucos conseguem uma continuidade sem manter uma sequência de vitórias, independente da qualidade do elenco.
Dois times do futebol paulista apresentam propostas na contramão desse pensamento: Corinthians e Audax. São realidades e cenários completamente diferentes, mas dois times que apresentam padrão de jogo e uma continuidade que permite que os resultados venham com naturalidade, sem aquela dúvida de sobrevivência para o próximo jogo.
O Corinthians de Tite dispensa apresentações. Mesmo com a baixa de quase todo seu time titular campeão brasileiro em 2015, conseguiu remontar a equipe e consegue aplicar um nível de jogo interessante mesmo quando entra com reservas em campo – como diante da Ponte Preta, nesta quarta-feira.
É bem verdade que Tite teve a seu favor os resultados que terminaram em título no ano passado, mas poderia sequer ter fechado o ano se, por uma atitude de impulso, a diretoria alvinegra tivesse demitido o competente treinador após duas eliminações seguidas no primeiro semestre contra Palmeiras e Guarani-PAR. Não o fez e colheu frutos em curtíssimo prazo.
Longe dos mesmos holofotes vividos pelo Corinthians, outro trabalho que merece destaque é o de Fernando Diniz pelo time do Audax Osasco. Se não tem a mesma pressão por resultados de um time de massa dos grandes centros, Diniz conta com um orçamento bastante limitado em relação aos seus rivais e, mesmo assim, consegue dar o padrão de jogo que poucos possuem.
Mesmo com jogadores limitados, o Audax trabalha a bola da mesma forma faz alguns anos, evitando chutão e tentando envolver o adversário ainda que isso represente riscos de perder a bola dentro da sua área. Se não é um jogo altamente competitivo – e não é mesmo -, é digno de elogio por uma proposta diferente do habitual. Diversos gols desse ano seriam assinados até pelo Barcelona.
A premiação do time de Osasco é uma nítida evolução ano após ano. Em 2014, ficou em quarto na sua chave, ainda que tenha caído na mais competitiva do torneio e até o próprio Corinthians tenha perdido a vaga para Botafogo e Ituano. No ano passado, outra vez na trave: terceiro lugar e cinco pontos tiraram a equipe do mata-mata.
A vaga neste ano ainda não foi assegurada, mas o time de Diniz lidera a chave mesmo com a presença do São Paulo no grupo. Assim como também não é garantido que o Corinthians será finalista, nem mesmo que passará pelo Red Bull. O que parece certo, porém, é que a continuidade no comando tem mais benefícios do que pontos negativos para os clubes. É preciso revisar a política de demissões de treinador.