A ciclista americana Kittie Knox com sua bicicleta. Final do século XIX. Foto da Smithsonian Library | Crédito foto: Divulgação
Uma "intrusa" na Liga dos Ciclistas Americanos
Katherine ”Kittie” Knox, afro-americana nascida em Boston em 1874, filha de pai negro e mãe branca, travou uma batalha em dose dupla. Racial e de gênero.
Ainda na infância se apaixonou perdidamente pelas bicicletas. Pressionada pelos costumes e imposições morais daquela época, tornou-se costureira.
Ela não se contentava em ser relegada a uma única atividade. Recusou os cautos triciclos e adotou o veículo de duas rodas, exclusivo ao uso masculino. Tornou-se uma ávida ciclista.
Sua metamorfose foi interna, externa e contagiante. Abandonou as saias rodadas e confeccionou suas próprias calças para andar de bike com mais liberdade.
Em 1885 decidiu participar do encontro anual da Liga dos Ciclistas Americanos em Asbury Park, New Jersey. A Liga foi fundada em 1880 com o nome de Sociedade Americana de Wheelmen. Atualmente a Liga dos Ciclistas Americanos reúne mais de 100 mil participantes nos Estados Unidos.
No começo, os participantes brancos rechaçavam a participação de negros e criaram até uma estúpida “barra de cores” premiando somente os atletas brancos.
Kittie desafiou a desigualdade, estacionou sua bike em um espaço social até então segregado, mostrou seu cartão de membro da Liga para o acesso - o que lhe permitia participar das atividades oficiais da sociedade -, dançou com um homem branco, rodou a baiana e fez valer de uma vez por todas o direito de estar ali entre os demais.
Em um tempo em que pessoas negras – e menos ainda mulheres negras – não pilotavam bicicletas nos Estados Unidos, a atitude desta prodigiosa ciclista estilhaçou paradigmas.
Miss Knox infelizmente adoeceu por problemas renais e sucumbiu ainda muito jovem, aos 26 anos, em 1900.
Protagonista da virada do século, a marcaria para sempre a percepção pública da mulher e do negro, incentivando o debate sobre o racismo e sexíssimo no ciclismo e na vida.
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