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Diego Coelho fala sobre dificuldades e planos para CrossFit adaptado

Written by Caique Cobra | 8/mai/2017 22:20:31

Crédito foto: Reprodução Instagram oficial do entrevistado

Você conhece Diego Coelho? Se não conhece, certamente precisa conhecê-lo. Um cara que além de humilde e simpático faz as coisas acontecerem no CrossFit adaptado. Sim. Nós precisamos de mais Diegos no mundo e foi por isso que eu o entrevistei.

Após sofrer um grave acidente de carro, acabou tendo complicações no hospital e ficou paraplégico. Com o tempo e uma rotina monótona, engordou e chegou a pesar 135kg. Depois de um tempo, recebeu apoio para se matricular em uma academia tradicional e por conta do destino acabou conhecendo o CrossFit.

Engana-se quem pensa que a maior vitória dele foi perder 75kg, após fazer cirurgia bariátrica e prática constante da modalidade – isso é mero detalhe e pouco importa aqui. O que realmente importa é o que ele busca incessantemente dentro deste esporte.

Início, preconceito e planos

Crédito foto: Reprodução Instagram oficial do entrevistado

A primeira coisa que o questionei foi como foi a sua chega em seu primeiro box. ‘’Logo na primeira aula, eu me apaixonei! Quem me recebeu lá foi o coach Renato, que é um cara sensacional, ele realmente foi um cara que me incentivou a entrar na modalidade’’, exaltou Coelho.

Mas foi lá mesmo que ele recebeu a primeira baixa, que por sinal foi de um Head Coach, que nunca se quer acompanhou um treino dele. ‘’Após eu ficar sabendo do Open, eu falei: pô, coach eu vi que tem o Open, você acha que eu consigo fazer? Será que rola? Ele falou – olha cara, eu acho que você não dá conta’’, relembrou o cadeirante.

‘’Assim, foi uma resposta ruim, mas como tudo na minha vida eu prefiro ver o lado bom das coisas. Isso me deu mais força e gana de querer mostrar que eu posso, consigo e que dá para fazer’’, emendou Coelho.

E não demorou para ele começar a se destacar em competições. ‘’Eu soube do WheelWOD, que é o Open adaptado para cadeirantes e me inscrevi na Categoria Scale, participei da competição no ano passado e fui campeão. Não deixei nada me abalar, principalmente pelo amor ao esporte, e a vontade de evoluir sempre foi maior’’, comentou o cadeirante.

Exercícios preferidos e o que ele mais escuta no box

Crédito foto: Reprodução Instagram oficial do entrevistado

Seus exercícios preferidos são: pull up, rope climb e muscle up, ou seja, movimentos de extrema complexidade até mesmo para atletas sem deficiência. ‘’Por incrível que pareça o que mais eu escuto dos meus parceiros no box é – seu aleijado de me***, vi***, como você consegue fazer isso e eu não? [risos]. A gente cria uma intimidade muito grande e a galera me trata de igual para igual.’’, relata com bom humor Coelho.

Números e acessibilidade

Segundo ele, não precisamos mudar a cabeça de ninguém, mas sim conscientizar a todos que dá para o cadeirante treinar. ‘’Hoje, muitas vezes, quando eu vou nos boxes treinar e alguém quer treinar comigo ele senta na caixa e faz o meu treino. É sensacional, emocionante, dá até vontade de chorar’’, relata o cadeirante.

Ainda segundo ele, cada vez mais cadeirantes estão entrando na modalidade. ‘’Quando eu comecei, tinha eu e mais dois atletas, que eu conhecia, e que praticavam o CrossFit adaptado no Brasil. Hoje, a gente tem cerca de 25 atletas cadeirantes e mais ou menos uns 15 adaptados em pé, que a gente considera aí também amputados de membro inferior ou superior’’, explica Coelho.

Crédito foto: Reprodução Instagram oficial do entrevistado

O cadeirante ainda contou a reportagem que já visitou cerca de 40 boxes no mundo, mas apenas três deles são 100% acessíveis. Por sinal, dois deles estão no Brasil. ‘’O primeiro que visitei foi a CrossFit Tamboré, além da CrossFit Simio, que é onde eu trabalho hoje, e outro box, localizado no Canadá, onde o dono é cadeirante’’, comentou o atleta.

Responsável pela produção da 1ª cadeira rodas da América Latina

Para quem não sabe, hoje temos uma cadeira específica da modalidade graças ao Diego e a Jumper. ‘’Quando eu fui para o Canadá, eu vi muita gente treinando e competindo com cadeira de rodas de basquete. E aí quando eu voltei, eu fui na Jumper, que é a empresa que me apoia, e desenvolvemos juntos a primeira cadeira de rodas da modalidade na América Latina’’, contou Coelho.

Maiores dificuldades hoje

Coelho afirma que recebe diariamente mensagens de pessoas perguntando quais boxes são acessíveis e se os coaches estão preparados para isso. Questionado sobre o que um box tem que ter para ser acessível ele explicou que para receber um atleta com deficiência, a primeira coisa que ele (box) tem que ter é uma vaga de deficiente na porta – item básico e indispensável.

Além disso, ele (box) precisa ter uma porta grande e sem degraus para que o cadeirante consiga entrar. ‘’Precisa ter rampas de acesso. O cadeirante precisa ter acesso a todas as dependências do box, sem precisar de ajuda. Quando a gente fala de acesso a todas as dependências não é quando o cara precisa de uma ajudinha para passar, isso não é acessibilidade. O cara tem que conseguir fazer tudo sozinho’’, destaca Coelho.

Crédito foto: Reprodução Instagram oficial do entrevistado

Outro ponto importante está no banheiro. ‘’A galera se preocupa muito com apenas as barras para ele (deficiente) se transferir para o vaso, mas não é só isso. Para um box ser totalmente acessível, além das barras, precisa ter um chuveiro específico para o cadeirante tomar banho’’, ressalta Coelho. ‘’Então assim, se você tem chuveiro, vestiário para o andante, por que você não vai ter para o cadeirante também?’’, questiona ele.

Engana-se quem pensa também que apenas deficientes o procuram, novos coaches que estão começando a trabalhar com atletas cadeirantes perguntam com frequência como eles (coaches) podem fazer certas adaptações.

Outra coisa para se destacar é que agora ele está conseguindo colocar a categoria cadeirante em grandes campeonatos da modalidade, como por exemplo, Monstar Games e Wod Experience, mas não para por aí. ‘’A galera tem me chamado bastante para fazer eventos da modalidade, não só campeonatos, mas para fazer WOD Show dentro dos próprios boxes, isso é bem bacana’’, relata o cadeirante.

Convívio social

Coelho contou também que a modalidade potencializou ainda mais o seu convívio social. ‘’Hoje, quando eu saio com meus amigos para jantar ou para fazer qualquer outra coisa e o lugar não é acessível, f*****, os caras me catam nas costas e nós vamos. Eles cansam de dizer –  se não for, a gente faz ser acessível’’, relembra a parceria o cadeirante.

Sonho

Crédito foto: Reprodução Facebook oficial Wod Experience

O sonho de Diego Coelho é conseguir montar uma categoria com 300 atletas adaptados. E que tenha, pelo menos, um em cada box do Brasil, independente da deficiência.

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