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NFL: O touchdown que salvou uma vida

Written by Marcos André | 25/jul/2017 15:03:00

Crédito foto: Getty Images

Pittsburgh, 23 de dezembro de 1972. Por uma vaga na final da AFC, Steelers e Raiders travavam uma árdua batalha. Os ataques, com dificuldade, não conseguiam caminhar. O primeiro tempo terminou sem pontos. No terceiro período, timidamente, o placar foi inaugurado com um field goal da equipe da casa... mas foi só. Em 45 minutos de jogo, três pontos anotados. Quem diria que algo tão inacreditável estava prestes a acontecer... e a deixar de acontecer também.

O quarto período chegou. Com ele, o nervosismo, a ansiedade... e, enfim, os pontos. Com outro field goal, os Steelers dobraram a liderança, mas logo viram os Raiders virarem o placar com um touchdown. 7-6. A temporada de Pittsburgh estava a 22 segundos do fim. Era uma quarta descida longa, ainda no campo de defesa, sem timeouts para pedir. A essa altura, apenas um milagre salvaria os Steelers. Tudo o que o quarterback Terry Bradshaw pôde fazer foi receber o snap, se livrar da bola e torcer. Torcer para que aquele passe tivesse um destino feliz. Perfeito. Imaculado.

A jogada que estava prestes a nascer é considerada, muitas vezes, a mais marcante – e polêmica - da história da liga. Mas se você é fã da NFL, sabe o que aconteceu. É por isso que quero fazer algo diferente. Quero te mostrar o que não aconteceu!

No mesmo dia em que Franco Harris fazia a arquibancada do Three Rivers Stadium balançar de alegria, em outro lugar um tremor gerou uma sensação exatamente oposta. Em Manágua, capital de Nicarágua, um forte terremoto deixou cerca de 20 mil mortos. Ídolo do Pittsburgh Pirates, equipe da MLB, Roberto Clemente decidiu organizar três voos que deveriam levar suprimentos para as vítimas. Alguns dias depois, contudo, o jogador descobriu que nenhuma peça de roupa ou garrafa d’água havia chegado ao destino. Tudo havia sido desviado por funcionários corruptos do governo nicaraguense.

Obviamente, Clemente ficou muito frustrado, mas não desistiu de ajudar. Ele decidiu enviar um quarto avião com suprimentos – mas dessa vez, fez questão de embarcar junto num voo marcado para o dia 31 de dezembro. Após resolver todas as questões burocráticas, decidiu chamar um grande amigo para ir junto: Les Banos. É aqui que as histórias se encontram.

Les Banos era fotógrafo das duas equipes – Steelers e Pirates. Antes de embarcar no voo com seu amigo, ele precisava cumprir um último trabalho no sábado anterior: fotografar o jogo entre Steelers e Raiders. Banos confessou que esperava uma derrota de Pittsburgh, portanto, estaria livre a partir daquele dia e poderia partir para a Nicarágua com Clemente.

Crédito foto: Reprodução / Youtube NFL Films

A 22 segundos do fim, a previsão de Banos parecia se concretizar. Mas, o que aconteceu dentro das quatro linhas você já sabe. Repito, quero mostrar o que não aconteceu. De forma histórica, os Steelers viraram aquela partida. Naturalmente, teriam mais uma no domingo seguinte, dia 31, valendo o título da AFC. Como as férias de Banos foram adiadas, ele não pôde embarcar no voo com seu amigo, e combinou de encontrá-lo em Nicarágua na segunda-feira seguinte, dia 1° de janeiro. Infelizmente, isso nunca aconteceu.

Tragicamente, seis horas após o final do jogo, chegou a notícia de que um avião havia caído no mar a poucos quilômetros de Pittsburgh. Cinco pessoas morreram. Entre elas, Roberto Clemente. Les Banos não estava a bordo por um detalhe imaculado. Quando Franco Harris anotou aquele touchdown, ele não salvou apenas a temporada dos Steelers. Ele salvou uma vida!

** Esse texto foi produzido baseado no documentário The Life Saved by the Immaculate Reception, produzido pela NFL Films.

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