Feição séria, língua para fora, batidas fortes com as pernas no chão, tapas no próprio corpo e canções cantadas com muita força. Essas são as principais características de uma dança que está profundamente enraizada na cultura do povo neozelandês, desde os primeiros encontros entre Maoris e os exploradores do país, os Europeus. O que muitos não sabem, é que o Haka têm diversas vertentes.
No caso da Seleção da Nova Zelândia, os atletas fazem em sua maioria a "Ka mate, Ka mate" (“É a morte, é a morte”). Porém, em 2005, um especialista em cultura e costumes Maoris escreveu especialmente para os All Blacks um outro tipo de Haka, o “Kapa O Pango”. Em ambas, é muito importante que as expressões faciais sejam levadas a sério a fim de intimidar o adversário. A Pūkana, nome que se dá aos gestos com o rosto, significa abrir bem os olhos e colocar a língua para fora, no caso dos homens, e abrir os olhos e salientar o queixo, no caso das mulheres.
O rito “folclórico” tem em sua essência preparar guerreiros – física e mentalmente – para batalhas, mas ao longo dos anos foi incorporado como forma de agradecimento, acolhimento e boas-vindas. Para um Haka acontecer, precisa-se muito mais do que um motivo especial. É necessário que seus participantes tenham muito orgulho, vigor, força e identidade com sua tribo.
Entretanto, estes propósitos têm saído do controle dos All Blacks. A última participação da equipe na Copa do Mundo de Rugby causou indignação nas tribos Maoris, já que o Haka foi visto em publicidades de cerveja, na inauguração de um shopping e em marcas de roupas. Assim, o uso descontrolado da dança com fins comerciais não foi visto com bons olhos para a maioria da população neozelandês.
“O Haka não foi criado para gerar lucro. Deveria ser tratado com mais respeito. Usamos o Haka para nos expressar em diversas ocasiões, como para acolher as pessoas, se despedir dos mortos, celebrar vitórias ou mostrar o nosso orgulho. As pessoas não entendem do que se trata, é uma pena", criticou o conselheiro cultural da tribo maori Ngati Toa, criadora do Haka "Kama Te", Kahu Ropata.
Nesta linha de raciocínio, no fim de 2015 aconteceu uma das apresentações que mais emocionou os adeptos do rugby. No funeral do astro dos All Blackas, Joanh Lomu – o ponta sofria de uma doença renal rara, desde 2002, e morreu aos 40 anos de idade – inúmeros Hakas aconteceram. Desde os ancestrais até jovens de uma escola homenagearam o craque e fizeram muitos marmanjões chorarem.
De volta à polêmica do Mundial, a Ngati Toa é detentora dos direitos intelectuais da dança dentro do território da Nova Zelândia, o que permite que o rito seja usado – muitos casos indevidamente – nas outras partes do mundo. Em sinal de respeito, em 2015 foi aprovada no país uma lei que informa à tribo cada vez que o Kama Te seja usado.