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Cotas de TV: Por grandeza ou igualdade entre os clubes?

Written by Matheus Sandonato | 3/mar/2015 15:15:00

Os clubes agora são dependentes das cotas de televisão e ainda se procura um meio de torná-las igualitárias, melhorando o nível do futebol brasileiro.

Desde que os clubes começaram a ter nas cotas de TV um dos seus maiores lucros e meios de se manter ativos, o tamanho deles sempre foi essencial para a quantidade de dinheiro conseguida por meio dos contratos. Em alguns campeonatos como o espanhol, clubes como Real Madrid e Barcelona ganham até 34% do que é repartido entre todos as outras 20 equipes  da primeira divisão, o que explica a diferença gritante entre elencos e a situação precária em que muitos se encontram.

 

No Brasil chega-se a constatar que os clubes que se encontram na parte de cima da pirâmide de cotas chegam a ganhar 10x mais que o menos favorecido nessa pesagem, estipulada pelos detentores dos direitos de transmissão. As consequências disso, em um país em que muitos clubes ainda não conseguem alinhar sua situação financeira às exigências jurídicas acaba criando um ciclo em que por mais que tanto dinheiro esteja em posse de dirigentes, pouco se consegue aliviar as contas. Os cariocas Botafogo e Fluminense, por exemplo, alavancaram juntos suas dívidas com a União em 2014 em R$ 105 milhões, apesar de serem um dos 10 clubes que mais faturaram com as cotas em 2014.

 

A partir de 2016, os maiores clubes do país receberão entre R$170 milhões e R$60 milhões por ano. Confira a tabela:

 

O que explica a diferença de valores ?

 

Desde a implosão do clube dos 13, instituição dedicada a negociação coletiva dos contratos, as emissoras de TV no Brasil começaram a negociar diretamente com os times das duas primeiras divisões do país, aumentando a disparidade, assim como na Espanha. No ano de 2014 a Chapecoense estreiou na Série A e recebeu cerca de 18 milhões de reais, sendo desse montante 10% descontado em função da CBF, organizadora do campeonato nacional.

 

Por outro lado, o Corinthians, um dos maiores clubes do país, assinou um contrato no valor de 120 milhões. Em 2016, o clube paulista aumentará a sua cota para 170 milhões assim como o Flamengo. Os dois times, pela divisão de cotas, são considerados de primeiro escalão, por receber as maiores quantias e terem o maior potencial de mercado do país. Isso explica as previsões do rubro-negro para os próximos anos, com no mínimo, uma receita na casa dos 480 milhões, superando as dívidas do clube. Este panorama só foi possível devido ao sistema de cotas de TV atual, que privilegia o Flamengo por ter a maior torcida do país, segundo pesquisas realizadas pelo IBGE.      

 

Diferentes modelos de distribuição:

 

O campeonato nacional mais rentável do mundo, a Barclays Premier League, é conhecido pela sua divisão de cotas em três fatias:

 

A primeira é uma cota dividida igualmente entre os 20 clubes da primeira divisão, que na temporada 2013\2014 girou em torno de € 65,5 milhões. A segunda fatia é baseada no mérito, que é paga de acordo com a posição do time no término do campeonato, variando entre os €30 milhões conseguidos pelo campeão, Manchester City e €1,5 mihões destinados ao Cardiff, lanterna da competição. Apenas a terceira, a de audiência, usa como o potencial da marca e torcida dos clubes, responsável pelos altos índices de público. Ainda assim, pela garantia contratual de que cada time terá no mínimo 10 jogos a serem transmitidos em cadeia nacional, o menor valor conseguido chegou a €77,6 milhões.

 

No começo desse ano foi anunciado um novo modelo de comercialização do torneio, que movimentará cerca de €6,67 bilhões. Esse novo contrato gerou indignação no mundo todo, muito pela forma com que outras ligas como a Ligue 1 (França), a Serie A (Itália) e La Liga (Espanha) distribuem as cotas. Os clubes espanhóis, por sua vez,  aderem a uma proporção de 11,3 por 1 em comparação aos grandes Real Madrid e Barcelona.  Chegou-se a cogitar por lá a paralisação do campeonato caso o governo do país não interferisse na divisão de cotas, mas ainda não houve qualquer acordo.

Atualmente, o Brasil é apenas o quinto país no ranking que envolve o dinheiro pago pelos direitos de transmissão do seu campeonato no mundo. Veja: 

 Tentativas de mudança do cenário nacional:

 

Em 2014 o deputado Raul Henry (PMDB-PE) propôs uma alteração uma alteração na lei 9.615, apelidada de Lei Pelé, para que haja uma uma distribuição mais justa dos direitos de transmissão do futebol. Segundo ele “O campeonato fica melhor e ela – a Globo – não precisa se preocupar em dividir, só em pagar”.

 

O projeto de lei do deputado segue o modelo inglês, citado anteriormente na matéria, e visa a divisão em três partes do montante dado aos clubes. A escola desse modelo para o congressista não é aleatória. Em entrevista ele explicou: “O Campeonato Inglês é o melhor campeonato do mundo. O Campeonato Alemão é muito bom também, mas divide o dinheiro igualmente, o que considero também injusto. Um clube sem torcida não pode receber o mesmo que os clubes de maior torcida. Assim como o não dá para o clube que foi campeão ganhar o mesmo que o último colocado. Por isso escolhemos o modelo adotado no Campeonato Inglês, que divide uma parte igualmente, outra parte por desempenho e também leva em conta a audiência de TV.”

 

O projeto ainda não foi votado e portanto, não se sabe se será efetivado, mas é capaz que não seja, já que no congresso existem vários lobistas a favor dos interesses da Globo, que desde que começou a negociar com os clubes, nunca levou em consideração uma divisão mais igual dos direitos.