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5 Coisas que o Audax nos ensina sobre a vida

Written by Stéfano Bozza | 6/mai/2016 12:00:00

Com um modelo de jogo inovador e arriscado, o Audax vem chamando a atenção pela capacidade de manter a posse de bola a todo custo, mesmo diante de nível técnico superior, e ainda conseguiu chegar à decisão do campeonato paulista de 2016 diante do Santos. Os riscos fazem parte da proposta do time.

Você pode não gostar das trocas de passes que colocam a defesa em risco constantemente, mas não dá para negar que é divertido vê-los jogar. Um eventual título é apenas consequência de um trabalho que vem sendo realizado ao longo do tempo e que já colocou a equipe de Osasco na série D – e com possibilidade de começar a pensar nacionalmente. O resultado pouco importa em um contexto de total inovação.

Independente de tudo isso, a boa campanha do time de Fernando Diniz e o sistema inovador podem trazer significados que extrapolam as quatro linhas do esporte e podem (e devem) ser levados para a vida cotidiana.

 

1. Inovação: faça diferente

O futebol praticado não seria tão chocante se não fosse por culpa dos nossos outros clubes. A massacrante maioria deles faz o sempre tradicional, seguindo os esquemas da moda (atualmente, o 4-2-3-1). Nos sinais de crise, os treinadores optam por defender seus cargos e colocam mais volantes no time.

Para os times considerados menores, a regra é ainda mais firme: defender e jogar por uma bola no contra-ataque. O rebelde Audax não respeita essa máxima e resolve jogar de uma maneira tão diferente que até assusta quem assiste pela primeira vez. Fazer diferente é necessário.

No dia-a-dia é comum ver padrões e gente fazendo mais do mesmo. Diniz poderia montar uma retranca e perder jogos por 1x0, ou até conquistar vitórias suadas e contestáveis, mas por que fazer igual se é possível fazer diferente? Para se destacar, é preciso sair do comum.

 

2. Trabalhe em equipe

Apesar de o futebol ser um esporte coletivo e que por si só já exija um jogo coletivo, em nenhum time ele é tão presente quanto na equipe de Fernando Diniz. A proposta de não rifar a bola e sair tocando desde a defesa depende totalmente da movimentação em blocos que o time de Osasco faz tão bem.

Clubes costumam dar o chutão por falta de confiança no passe curto decorrente de uma falta de opção mais simples, mas o alvirrubro sempre consegue encontrar um companheiro livre. Isso se deve aos jogadores que sempre buscam se movimentar e dar a opção de passe, ajudando quem está sendo pressionado com a bola nos pés.

A ideia é parecida com a do basquete: o time ataca em bloco, defende em bloco. Onze jogadores não cobrem o campo inteiro e, na medida em que se apresentam na defesa precisam ir avançando juntos para manter a criação de espaços e de possibilidades. Na hora de defender, todo mundo volta e tenta marcar para retomar a bola.

É impossível fazer tudo sozinho. Por melhor que alguém seja em uma determinada atividade, ela sempre terá dificuldade em outra. Dividindo trabalho e experiências tudo fica mais fácil.

 

3. Confiança é tudo

Fazer qualquer coisa sem convicção de que é a maneira certa é a chave para o fracasso. Sem confiança no que se está fazendo a chance de dar errado na primeira dificuldade cresce exponencialmente.

O time de Osasco tem total confiança na proposta do treinador – e a recíproca é verdadeira por parte de Diniz que repete insistentemente nas entrevistas que não dá ordens para que seus atletas não rifem a bola, mas para que tomem a decisão que entendem ser a melhor.

Não por acaso, o discurso dos jogadores é o mesmo sempre quando questionados sobre se o esquema não seria perigoso. “Perigoso é para o adversário” é a resposta padrão e que apenas demonstra a confiança naquilo que estão fazendo.

A prova disso são os jogos decisivos recentes contra Corinthians e São Paulo. Se todos - inclusive este que vos escreve - consideravam um jogo pouco competitivo e que seria adaptado nos jogos decisivos, os jogadores alvirrubros provaram que confiam na proposta e fizeram o mesmo estilo de jogo da fase classificatória.

 

4. Não desista dos seus objetivos

Desafios novos sempre estão acompanhados de dificuldades e, muitas vezes, optamos por desistir nos primeiros sinais das adversidades. Não foi o que fez o Audax, que sempre manteve o pensamento de que a proposta de jogo viria a dar certo.

O líder do grupo B deste ano fez apenas um ponto a mais do que em 2015 e dois a mais do que em 2014. Em ambas as oportunidades, porém, acabou eliminado na primeira fase em função de grupos com pontuações altas – fruto também de um regulamento bagunçado. Some-se isso a fracassos contra os rivais mais fortes, com direito a goleadas.

O time teve tudo e mais um pouco para desistir desse modelo de jogo – o que, é bem verdade, fatalmente aconteceria em um time de maior pressão. Contudo, não foi o que aconteceu: a proposta foi mantida e aprimorada a cada jogo, atingindo a final este ano.

O time foi colocado à prova diante do Corinthians, em Itaquera. Foram quinze minutos de muitos erros e pressão do rival. Em uma situação normal, poderia ter mudado seu estilo e feito o que todos fazem. Não o fez, seguiu jogando e conseguiu a vaga. E mesmo se tivesse perdido não seria demérito nenhum: não há mérito maior que seguir com as suas convicções mesmo quando tudo conspirar contra. Mudar de ideia é um acerto, desde que por convicção própria e não por qualquer dificuldade ocasional.

 

5. Dinheiro não é tudo

É óbvio, as coisas têm seu custo. Pode ser um custo de oportunidade, uma decisão, mas muitas delas têm seu valor financeiro. Isto não significa que tudo deva ser em função de ter mais e mais dinheiro.

Ao optar por jogar em Osasco diante do São Paulo nas quartas-de-final, o Audax deixou de obter uma maior receita caso disputasse a partida no Pacaembu ou até mesmo no Morumbi. A decisão foi tomada por um conceito raro no futebol, especialmente para equipes menores: priorizar a parte  técnica em detrimento ao financeiro.

A opção acabou por ser acertada e o clube teve mais jogos para aumentar ainda mais sua receita, porém poderia ter perdido o jogo e a receita. É um risco, sim, mas calculado: as chances de vencer se reduziriam bastante em um território em que o time não está habituado. Grama, tamanho e pressão da torcida influenciam, ainda que pouco, no desempenho das equipes. Dinheiro não é tudo.